As vitórias eleitorais fortalecem os comunistas na Índia

A Índia, onde muita riqueza convive ao lado de pobreza profunda (é lá que está a maior parte dos pobres do planeta, formada por mais de 300 milhões de pessoas que vivem na miséria), é um país de contrastes. Mas é também uma nação onde as eleições registram sólido crescimento eleitoral dos comunistas, como mostrou as eleições realizadas em abril em cinco estados do país – Bengala Ocidental, Kerala, Tamil Nadul, Assam e Pondecherry.

 

Nestes estados a coligação de esquerda, liderada pelo Partido Comunista da Índia-Marxista (PCI-M) foi amplamente vitoriosa, derrotando a coalizão de direita neoliberal e fundamentalista religiosa reunida em torno do partido Bhartiya Janata Party (BJP; o nome significa Partido do Povo Indiano), braço político do movimento fundamentalista hindu, de extrema direita, RSS (Rashtriya Swayamsevak Sangh, Organização Nacional de Voluntários).

 

Merecem destaque as vitórias em Bengala Ocidental e em Kerala, estados governador pelos comunistas. O estado de Bengala Ocidental, com 80 milhões de habitantes é governado pela aliança de esquerda desde 1977. É o mais longevo governo comunista que chegou ao poder através de eleições, em uma república democrático-burguesa, de todo o planeta, e esta é sua sétima vitória eleitoral consecutiva nestes trinta anos. Foi uma vitória arrasadora; dos 294 mandatos parlamentares em disputa, a frente de esquerda ficou com 236 (80% do total); destes, 176 foram eleitos pela principal força da coalizão, o PCI-M; o Partido Comunista da Índia (a outra organização comunista do país, que hoje atua em estreita cooperação com o PCI-M), elegeu oito parlamentares.

 

Em Kerala (31 milhões de habitantes), a aliança de esquerda está no governo há dois anos e esta é a terceira eleição que o governo de esquerda enfrenta. E vence. A coalizão de esquerda elegeu dois terços dos mandatos em disputa, ficando com 98 das 140 vagas do Parlamento; a grande maioria ficou com o PCI-M, que elegeu 61 entre aquelas 98 conquistadas pela esquerda, e o PCI elegeu 17 parlamentares; a oposição neoliberal elegeu apenas 42 deputados.

 

São resultados eleitorais que chamam a atenção e precisam ser analisados. A Índia tem, logo depois da China, a segunda maior população do planeta, formada por cerca de 1,1 bilhão de pessoas, que vivem em um território de 3 milhões de quilômetros quadrados (cerca de um terço do território brasileiro). E que vive problemas políticos que, em muitos aspectos, lembram os nossos. O país é governado por uma coalizão de centro esquerda dentro da qual o PCI-M tem um papel destacado, cuja importância cresceu com o atual resultado eleitoral. Todavia é um governo marcado pela contradição e que enfrenta severas críticas da esquerda e dos comunistas, que exigem a realização de um programa de desenvolvimento nacional, reafirmação da soberania do país e de atendimento das necessidades prementes da população.

 

Em 2005, quando o PCI-M e o PCI realizaram seus congressos mais recentes, havia uma avaliação de que, neste quadro contraditório em que o país vive, os comunistas vão se tornando uma alternativa de poder. Afinal, o quadro é contraditório. O governo vacila e muitas vezes cede às imposições de uma política econômica ortodoxa, de perfil neoliberal; no outro campo, a alternativa é a direita religiosa, de feição fascista, alinhada com os EUA e claramente neoliberal, formada pelo BJP.

 

A avaliação feita pelos comunistas não é arbitrária. O jogo político em curso na Índia, como revelam os resultados eleitorais, pode pavimentar o caminho para um governo mais avançado. E um dos pilares da ação política dos comunistas indianos é o forte sentido de coalizão revelado em sua experiência de governo em Bengala Ocidental e em Kerala.

 

Apesar do amplo predomínio eleitoral – e, em conseqüência, parlamentar –  dos comunistas dentro da frente de esquerda que governa aqueles estados, não há hegemonismo em sua ação, e as outras forças políticas da coligação, mesmo com resultados eleitorais menos brilhantes que os comunistas, recebemresponsabilidades de governo, sendo tratadas de forma equânime dentro da coalizão governista naqueles estados.

 

Outro aspecto que é o forte sentido popular daqueles governos, e do forte enraizamento dos dois partidos, o PCI-M e o PCI, nas massas indianas. Um repórter que viajou pelas áreas rurais de Bengala Ocidental em abril relata que mesmo quando os pequenos agricultores e arrendatários sem terra têm queixas (sobre estradas em mau estado, eletrificação deficiente, cuidados de saúde ainda medíocres), mesmo assim ele votariam na coalizão de esquerda. Um destes pequenos agricultores, Hidai Sheikh, explicou o porquê: "o CPIM é a única alternativa viável que temos. Apesar de tudo, em tempos de necessidade, eles estão sempre aqui junto de nós", disse.

 

 Afinal, estes trinta anos de governo ininterrupto dos comunistas em Bengala Ocidental alteraram a situação social no estado. A reforma agrária melhorou a situação dos camponeses, tornando o estado em campeão na produção de alimentos num país onde este é um problema crítico. Talvez seja por isso que, em outra aldeia, um agricultor confirmou a avaliação feita pelo agricultor Hidai Sheikh: "O CPIM é como nosso parente