O Brasil e a nacionalização boliviana

O presidente da Bolívia não surpreendeu ninguém ao anunciar a nacionalização do petróleo e do gás, neste 1º de Maio, para a multidão de trabalhadores que se comprimia na Praça Murillo. Esta é a posição de toda a sua trajetória de líder sindical e político. É a posição de seu partido, o MAS (Movimento Ao Socialismo). É a plataforma da campanha que o levou à presidência, no primeiro turno, em dezembro passado.
Surpreendente seria se Evo, uma vez tendo chegado ao Palácio Quemado, sede do Executivo, mudasse de idéia e direção. Que desistisse da proposta que foi o ponto crucial da plataforma que o elegeu. Que desapontasse os trabalhadores e eleitores que cantavam e dançavam ontem na praça.
Surpreendente e perigoso. Evo chegou à presidência à frente de um movimento de massas com raízes profundas e convicções sólidas. Num passado recente, este movimento desalojou dois presidentes da República: Sanches Lozada, em 2003, e Carlos Mesa, em 2005. Poderia muito bem desalojar o terceiro.
A decisão soberana da Bolívia cria um problema para a Petrobras. A empresa brasileira opera na Bolívia desde 1995, quando Sanches Lozada privatizou a estatal petroleira boliviana, YPBF. Desde então, investiu na Bolívia US$ 1 bilhão, o que não é pouco dinheiro, mesmo para uma empresa que investiu só no ano passado um total de US$ 6,6 bilhões.
O problema criado requer negociação e não confrontação. Negociação entre as diplomacias boliviana e brasileira, entre a Petrobras e  a IPBF, que leve em conta interesses que são conflitantes mas legítimos.
Quem se empenha em envenenar o ambiente é a oposição conservadora, aliás, tanto a brasileira como a boliviana, em especial a elite branca pós-nazista e separatista do departamento de Santa Cruz. Destilam o veneno a serviço de interesses inconfessáveis e situados bem ao norte. Em nome da Petrobras (quem diria!…), tentam vitimar a integração sul-americana, a política externa integracionista, e se possível entronizar de volta, no vazio assim criado… a Alca.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda na última sexta-feira (28), asseverou que não buscará o confronto com Evo Morales. “Eu não briguei com o Bush, não vou brigar com o Evo”, argumentou. Faz bem. Aí está a crise das papeleiras, entre Argentina e Uruguai, a mostrar aonde leva uma desavença de vizinhos quando é tratada sem grandeza.