Os avanços da integração latino-americana

No primeiro encontro dos presidentes do Brasil, Argentina e Venezuela, após a reunião de Puerto Iguazú, em novembro de 2005, que simbolizou a morte da Alca, a integração latino-americana deu mais um passo ousado no rumo da criação de um bloco regional contraposto ao hegemonismo dos EUA na região. Lula, Kirchner e Chávez discutiram a presença da Venezuela no Mercosul e a construção do Gasoduto Sul, uma ambiciosa obra de mais de 10 mil quilômetros de extensão. Empolgado com “a maior obra civil projetada no Ocidente”, Chávez garantiu em entrevista coletiva que “o trabalho começa agora, terá ramificações pelo Brasil, Argentina e demais países, empregará um milhão de pessoas e será finalizado em 2017”.

O gasoduto significa a concretização do antigo sonho de Simon Bolívar da integração latino-americana. A obra permitirá maior autonomia da região num setor estratégico, o energético, e servirá como alavanca para o desenvolvimento econômico dos países do continente. Além disso, incentivará outras iniciativas no rumo da unidade – seja no terreno econômico, com a construção da Petrosul e do Banco Sul; no político, como o funcionamento pleno do Parlamento do Mercosul; nas áreas sociais, como os novos projetos de ajuda mútua entre as nações; no ideológico, com o fortalecimento da Telesul; e mesmo no campo militar, com a proposta venezuelana da constituição de uma Organização do Tratado Sul (OTAS).
O avanço da integração regional só tem sido possível em decorrência das sucessivas derrotas eleitorais do neoliberalismo no continente. Como afirmou Chávez na animada entrevista coletiva, “se prevalecesse a visão dos anos 90, a visão neoliberal do Consenso de Washington, ele não existiria. Ele é a materialização da união, é a garantia da nossa independência e soberania”. Para vingar, esse projeto é indispensável que não haja retrocessos políticos na região. Não é para menos que Chávez não vacila ao falar sobre a importância das eleições no Brasil. “Se fosse brasileiro, eu votaria em Lula. A direita está desesperada no continente. A esquerda está avançando. E o que queremos com isso? Queremos o socialismo”.
A direita neoliberal, sempre subserviente aos EUA, sabe disto. Tanto que a reunião tripartite foi precedida de um brutal bombardeio da mídia. O jornalão O Estado de S.Paulo, por exemplo, afirmou num editorial raivoso que a política externa do governo Lula “é a consagração do atraso”. Já o panfleto tucano Primeira Leitura criticou a adesão formal da Venezuela ao Mercosul, que “deu ao companheiro Chávez o direito de apitar nas reuniões”, e rejeitou o “megagasoduto do Chávez, no qual Lula olha para o sonho do hermano e não rejeita a obra liminarmente”. Essa é a visão do bloco liberal-conservador que tenta retornar ao poder!
Rubens Barbosa, presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Federação das Indústrias de São Paulo, fiel escudeiro de FHC e homem forte da equipe de Geraldo Alckmin, não se cansa de tentar desqualificar a política externa do atual governo. Ele rejeita a prioridade dada às relações com os países “pobres” do Sul, insiste na tese de que o Brasil deve privilegiar as negociações com os EUA e afirma que, se eleito, Alckmin retomará de imediato as negociações da Alca. Para ele, a política externa do governo Lula é marcada pela “ideologização das decisões e a politização das negociações comerciais”. Ou seja: futuro da integração latino-americana depende, e muito, do resultado das eleições de outubro no Brasil.