Cúpula tripartite definidora de rumos

Os presidentes do Brasil, Argentina e Venezuela terão nesta quarta-feira (26), em São Paulo, a sua quarta reunião tripartite desde 1º de março do ano passado. A reunião é considerada crucial para os rumos da integração sul-americana. Problemas e oportunidades se avolumam, em pólos opostos, a exigir vontade política traduzida em gestos.

 

Hugo Chávez, Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner integram uma geração de governantes sul-americanos que se projeta a partir do clamor de seus povos por mudanças de sentido antineoliberal. De concreto, apresentam até agora em seu ativo a desconstrução do projeto neocolonizador da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), formulado em Washington mas hoje tido por todos como morto, embora insepulto.

 

A vitória sobre a Alca não é pouca coisa. Mas exige, como contrapartida propositiva, uma alternativa que os três concordam ser a integração latino-americana, mais especificamente, nesta etapa, sul-americana.

 

Em contraste com o formato da Alca, esta seria generosa e solidária, não submetida às forças cegas do mercado, mas ditada pela vontade e a solidariedade de povos que se reconhecem como irmãos, de uma irmandade ditada pela geografia e pela história, pela cultura, pela similitude dos desafios que enfrentam, a começar pela necessidade de superar a herança maldita deixada no continente pelo tsunami neoliberal.

 

Em um gesto simbólico, a Venezuela vem de abandonar a Comunidade Andina. Considera essa articulação “agonizante”, face aos tratados de livre comércio (TLCs) com os Estados Unidos, negociados pela Colômbia (que se afiança como cabeça-de-ponte da reação pró-americana no continente), o Peru (agora no ocaso do impopularíssimo governo Toledo) e o Equador (onde o TLC só foi barrado graças a uma quase-rebelião popular). Como opção, os venezuelanos apostam as suas fichas no Mercosul, onde acabam de ingressar como membros plenos. Vêem nele o embrião do que Chávez chama de Alba – a Comunidade Sul-Americana das Nações.

 

O discurso integracionista, porém, depara-se com as dimensões dos desafios que a tarefa por fazer inclui. Um exemplo no plano físico: o Gasoduto do Sul, que integrará a Venezuela, o Brasil, a Argentina e talvez a Bolívia – um dos temas da cúpula desta quarta – deverá ter 10 mil quilômetros de extensão. Outro, no plano das contingências imediatas: o atual conflito Uruguai-Argentina, sobre a construção de fábricas de celulose na fronteira, ou, ontem, as rivalidades inter-empresariais argentino-brasileiras sobre comércio bilateral. Outro ainda, de ordem geopolítica: as maquinações vindas do Norte para isolar a Venezuela e sangrar a integração do Sul via TLCs.

 

Sobre todas essas variáveis incidem interesses conflitantes, internacionais, regionais, bilaterais e no interior de cada uma das nações envolvidas. E todos, de uma ou outra forma, desembocam nos gabinetes de trabalho dos três presidentes que se encontrarão em São Paulo. Que, entre todos, se priorize os interesses estratégicos das maiorias populares destes sofridos países do Sul, é o que se espera das biografias, da sensibilidade e da coragem de Chávez, Kirchner e Lula