Privilegiar a aliança nacional

Em um momento político em que a direita procura se acertar nacional e regionalmente para a grande batalha eleitoral de outubro, apesar de todas as dificuldades que tiveram ao decidir a cabeça da chapa presidencial — por enquanto definida em torno do nome do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, restando a disputa pela vice entre José Jorge (PFL-PE) e José Agripino Maia (PFL-RN) – urge que no campo de apoio ao governo democrático e popular de Luís Inácio Lula da Silva se faça movimento de ampla união de forças progressistas e de centro para contrastar o esforço neoliberal.

 

Não se pode permitir que a lógica das disputas regionais em cada Estado da Federação se coloque acima do projeto nacional. Para isso é preciso repactuar as forças do bloco mudancista, recolocar o povo nas ruas para desmascarar a tática golpista da direita, recuperar a iniciativa política no Congresso Nacional após a votação do Orçamento que emperrava o andamento dos projetos de interesse do povo brasileiro e acelerar a elaboração de um documento do núcleo de partidos da base aliada – PT, PCdoB e PSB – que contribua na formulação do conteúdo de uma nova carta aos brasileiros que sinalize no rumo das mudanças.

 

Os setores organizados do movimento social vão cumprindo sua parte. O 2º Fórum Social Brasileiro (FSB) contribuiu na tarde de sábado passado (22/04), em Recife (PE), para a construção desta frente ampla: foi durante a realização do Debate: “Por uma Nova Vitória das Forças Progressivas no Brasil — Fator Decisivo para o Desenvolvimento Nacional e a Integração da América Latina” — promovido pelo Instituto Maurício Grabois e a pela Fundação Perseu Abramo, e que contou com a presença de 1.200 pessoas. A mesa dos debates reuniu importantes lideranças de esquerda e declararam apoio a Luiz Inácio Lula da Silva. As entidades e os partidos políticos presentes à conferência reafirmaram seu compromisso com um governo de esquerda, de base popular e viés progressista. Na ocasião, Adalberto Monteiro, do Instituto Maurício Grabois, proferiu o discurso de abertura. “Que este debate — que este Fórum Social Brasileiro — contribua para forjar uma ampla frente partidária e dos movimentos para barrar o retorno da direita e avançar nas mudanças”, declarou.

 

Já Eduardo Campos, presidente do PSB, disse em seu discurso que “os primeiros quatro anos são de transição. Agora a etapa é outra” (…) “Precisamos de uma nova Carta aos Brasileiros, visando à integração social e regional do Brasil.” O candidato a governador e ex-ministro da saúde Humberto Costa lembrou o êxito dos programas sociais do governo Lula, como o Fundeb, o ProUni, o Bolsa Família e a Farmácia Popular. Também enfatizou o papel de resistência do Brasil frente às investidas imperialistas. “O presidente Lula jamais vacilou na percepção de que a Alca é perniciosa”.

 

Para o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, o Brasil vive mais uma encruzilhada política com significado histórico. O presidente associou a sanha maldita das elites de hoje com o radicalismo da antiga UDN (União Democrática Nacional). “Uma vitória dos tucanos — “as velhas oligarquias travestidas de modernas” — representaria a recolonização de um Brasil onde as elites seriam intermediárias dos interesses americanos”, afirmou o Renato. Ecoando o discurso que fez no 6° Encontro Nacional da Corrente Sindical Classista (CSC), Rabelo comparou os três principais presidentes estadistas da História do Brasil: “Ao demolir a República Velha e apresentar um projeto de nação, Getúlio Vargas efetuou a unificação dos estados. Juscelino Kubitschek, sobretudo com Brasília, tratou da integração física do Brasil. Agora Lula se projeta como o responsável pela integração continental”.

 

Ao lado destas manifestações partidárias, o FSB também abrigou as principais lideranças do movimento social no Brasil sendo que o destaque no último dia na programação foi a plenária dos Movimentos Sociais que traçou uma agenda comum de lutas para o próximo período, baseado principalmente na luta por um segundo mandato presidencial de continuidade nos programas sociais e mudanças do modelo econômico. O ato foi promovido pela Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) e reuniu 550 lideranças e ativistas.

Realizado desde o dia 20 de abril, em Recife — com algumas atividades culturais também na vizinha Olinda —, o Fórum Brasileiro contou com a notável participação de 20 mil pessoas, que representaram quase 400 entidades, em mais de 500 atividades. O Fórum mostrou maturidade ao depositar outro voto de confiança no presidente Lula, na luta por um segundo mandato presidencial de continuidade nos programas sociais e mudanças de foco no modelo econômico. Desta forma vai sendo constituída a força que poderá dar continuidade ao processo de combate às políticas neoliberais no Brasil e na América Latina.