FMI faz coro com a direita brasileira

Numa ingerência descabida, o Fundo Monetário Internacional divulgou ontem um relatório exortando o governo Lula a “resistir às pressões para afrouxar a atual disciplina fiscal e a manter o superávit primário” elevado para pagar os juros da sua dívida pública. Mesmo o Brasil tendo saldado sua dívida com o FMI e descartado o rígido monitoramento desta agência mundial do capital financeiro, o prepotente organismo ainda se julga com autoridade para agredir a soberania nacional e impor sua receita ortodoxa à economia. Segundo a subserviente mídia tupiniquim, o FMI estaria descontente com as tímidas mudanças efetuadas pelo novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e preocupado com a “gastança em um ano eleitoral”.

 

 

No documento “Perspectivas para a economia mundial”, o Fundo critica as contratações de servidores no governo Lula, o chamado “inchaço do setor público”, e o aumento dos gastos com programas sociais. Ele ainda condena a trajetória de queda do superávit, que já atingiu 5% do PIB, mas que hoje se aproxima dos 4,25% fixados como meta máxima pelo governo. No alto da sua arrogância, o FMI também “recomenda” uma nova rodada de reformas – com ênfase para a trabalhista e a previdenciária – para tornar o “ambiente de negócios” mais favorável aos investimentos. “A questão central agora é realizar reformas para tornar o Brasil mais competitivo”, aconselha o desastrado organismo, responsável pela falência de várias nações.

 

 

O relatório do FMI tem um nítido viés político – e até mesmo eleitoreiro. Surge exatamente no momento em que a oposição liberal-conservadora, chefiada por Geraldo Alckmin, ataca os investimentos públicos do governo. Nas últimas semanas, a mídia burguesa, numa campanha bem orquestrada, espinafrou as 37,5 mil contratações de servidores efetuadas pela atual administração. Ela também tem tentado estigmatizar os programas sociais do governo Lula, taxando-os de ineficientes e assistencialistas. Tudo indica que a direita já escolheu um alvo para a campanha eleitoral: os servidores públicos. É a reedição do “caçador de marajás” de Collor e dos ataques de FHC aos “vagabundos”. E o FMI faz coro com esta campanha abjeta!

 

 

Além do seu nítido caráter eleitoreiro, esta nova ofensiva da direita brasileira, respaldada pelo FMI, ainda visa enquadrar o novo ministro da Fazenda. Toda a quinta-coluna neoliberal do ex-ministro Palocci foi despejada para o desespero do “deus mercado”. E apesar de enviar insistentes recados de bom-mocismo, Mantega tem adotado posições que indicam uma cautelosa alteração de rumo na economia. Entre outras iniciativas, ele abortou o plano do seu antecessor de maior abertura comercial, barrou as medidas de corte dos gastos públicos, rejeitou a ampliação do tempo de validade do superávit, descartou uma nova reforma da previdência e orientou o Conselho Monetário Nacional a afrouxar a Taxa de Juros de Longo Prazo.

 

 

Como observa o professor Décio Munhoz, do Departamento de Economia da Universidade de Brasília, “o ex-ministro Palocci fez uma aliança preferencial com o sistema financeiro. O novo ministro ou não tem essa dependência ou tem mesmo um pensamento diferente”. Se esta orientação realmente se confirmar, a oposição liberal-conservadora, que sempre serviu aos propósitos do FMI, tem motivos para estar furiosa. Além de ficar mais distante do seu desejo da revanche eleitoral, ela poderá ver um segundo mandado do governo Lula realizar a almejada superação do neoliberalismo para um novo projeto de desenvolvimento.