Barrar o retrocesso e avançar nas mudanças

A sucessão presidencial no país vai adquirindo contornos nítidos de uma encarniçada polarização política, na qual não faltarão baixarias da direita e ardilosas manipulações da mídia. Nesta batalha, decisiva para o futuro das esquerdas brasileiras e também latino-americanas, não haverá espaço para a pregação do “paz e amor” – e muito menos para a ilusão da terceira via ou do abstencionismo. O jogo será dos mais sujos. As ondulações nesta refrega polarizada serão bruscas, o que requer evitar tanto a embriagues da euforia como a inércia da depressão. Até março, o presidente Lula parecia ter retomado a iniciativa e a oposição surgia fraturada. Agora, o cenário se alterou, o que confirma que a disputa será bastante equilibrada e intensa.

 

 

Diante de um quadro tão volátil, as forças democráticas e populares precisam definir bem seus objetivos, que poderiam ser sintetizados em duas idéias-chaves: “barrar o retrocesso e avançar nas mudanças”. Por um lado, o bloco liberal-conservador optou por um candidato nitidamente identificado com a direita mais retrógrada. Geraldo Alckmin, um político ligado à seita fascista Opus Dei, não esconde a sua plataforma ultraliberal. Prega a redução do papel do Estado, a privatização das estatais, a retomada das negociações da Alca, a criminalização dos movimentos sociais e a flexibilização trabalhista. Ele já conta com o apoio dos círculos financeiros e das corporações empresariais. Alckmin é o candidato dos super-ricos do Brasil!

 

 

Por outro lado, o candidato do bloco popular-democrático precisa explicitar que num segundo mandato o Brasil avançará nas mudanças. Será necessário reafirmar as denúncias contra a herança maldita de FHC, que obrigou a adoção de medidas amargas para superar os estragos causados pelos oito anos de tucanato. Também será preciso mostrar as diferenças entre os dois governos. Em todos os quesitos, a comparação é altamente vantajosa para o governo Lula. Mas, além disso, é preciso sinalizar para o futuro. A transição do modelo neoliberal para um novo projeto de desenvolvimento ainda é um desafio. A recente queda do núcleo tucano da Fazenda foi um passo importante. É urgente explicitar que Lula é o presidente do povo!

 

 

Do ponto de vista da acumulação de forças dos setores populares e democráticos no Brasil e na América Latina, não resta dúvida que é preciso barrar o retrocesso, que é indispensável evitar a revanche da direita neoliberal. Tanto é assim que Hugo Chávez, Evo Morales e outros presidentes progressistas do continente já declararam seu apoio ao presidente Lula. Diferentemente de alguns míopes da esquerda, eles sabem os danos que causariam à integração regional o retorno de forças ligadas ao imperialismo ianque. Também do ponto de vista da acumulação estratégica de forças, é fundamental que o presidente Lula explicite seu desejo de avançar nas mudanças, de superar o nefasto modelo neoliberal. O povo entenderá a mensagem!