Mantega e a ''ditadura do mercado''

A nomeação do economista Guido Mantega para o Ministério da Fazenda parece não ter agradado o todo poderoso “deus-mercado”. Logo após sua posse, Márcio Cypriano, presidente do Bradesco e da Febraban, a onipotente federação dos banqueiros, deu uma entrevista descarada exigindo a “continuidade da política de responsabilidade fiscal, liberdade cambial e de metas de inflação”. Os círculos financeiros tupiniquins e de Wall Street não esconderam a sua decepção com a escolha do presidente Lula. “O Murilo Portugal [secretário-executivo do ex-ministro Antonio Palocci, que já havia servido ao governo FHC] seria uma opção melhor na visão do mercado”, desabafou Maristella Ansanelli, economista-chefe do Banco Fibra.

Para atiçar os nervos dos banqueiros, pouco depois os expoentes da ortodoxia neoliberal do time de Palocci também pediram demissão – entre eles, dois ideólogos dessa concepção, Murilo Portugal e Joaquim Levy. Na seqüência, o novo ministro sinalizou que deseja promover mudanças, mesmo que tímidas, na política macroeconômica. Em suas primeiras entrevistas, ele defendeu a adoção de taxas de juros “civilizadas” e criticou o dogma das metas de inflação. “Não seria nenhum pecado mortal se houvesse alguma mudança de dosagem na política de juros e de superávit”. Empossado, Mantega afirmou que não dará continuidade as iniciativas do seu antecessor de aprofundamento do arrocho fiscal e de maior abertura comercial.

Mantida esta linha, a queda-de-braço entre o novo ministro e a ditadura financeira será inevitável. Com o objetivo de atingir o presidente Lula, o bloco liberal-conservador atirou em Palocci para matar. Por um período, por ter dado continuidade à política macroeconômica neoliberal, o ex-ministro foi poupado pelo conluio oposição-midia. Com a proximidade das eleições de outubro e recrudescimento da disputa pela presidência da República, a “generosidade” da direita neoliberal evaporou-se. Foi montada uma operação “caça-Palocci” e o antídoto escolhido revelou-se mais letal que o próprio veneno.

Agora, os especuladores e rentistas tentam enquadrar o novo ministro e fazem chantagens e ameaças; temem perder o comando da economia. Bombardearam Palocci por motivos eleitorais, mas desejam a manutenção do denominado “paloccismo”!

A coação do capital financeiro costuma ser implacável. Até críticos do governo Lula, denunciam o que denominam de “terrorismo de mercado” para tentar emparedar novo ministro da Fazenda, Guido Mantega. A investida da direita contra a reeleição de Lula via a derrubada de Palocci, paradoxalmente, pode pelo lado potencialmente positivo que as crises carregam consigo descortinar inflexões mesmo que cautelosas no rumo da economia. Isso depende do prosseguimento da luta pela mudanças do campo político que respalda o governo, de uma decisão do próprio presidente Lula e da firmeza do novo ministro.