O Brasil na porta dos fundos da OCDE

Há uma aparente pasmaceira no governo Bolsonaro. Sua equipe e seus apoiadores aparecem mais pela prolixia do que por ações concretas. Esse método de governar tem a ver com a esfera econômica, por ser o cerne do governo, mas ele é, na essência, ideológico. É a ideia que, na prática, traduz um determinado modelo econômico. Algo que lembra a tese de Lênin de que a política é a expressão mais concentrada da economia, sua generalização e fim. Ou, numa definição sucinta, qualquer ação do governo tem como base interesses econômicos.

Essa formulação ficou bem definida no episódio que envolveu o aval dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Mais do que as idas e vindas de Donald Trump, o poderoso chefão da Casa Branca, que seria o patrono dessa decisão propalada pelo bolsonarismo como um grande feito, é preciso considerar a natureza de negociações como essa e o que representa essa organização tida como o clube dos ricos.

A OCDE é mais um dos arranjos que tentam balizar as regras internacionais de acordo com os interesses dos países que dominam os mecanismos da economia mundial. Há, no seu interior, conflitos de alta intensidade — sobretudo entre Estados Unidos e União Europeia. O que é apresentado na queda de braço entre Washington e Bruxelas como mera questão de forma para a ampliação da entidade, uma disputa entre a quantidade de países de um e outro continente, na verdade representa o jogo pesado das regras comerciais. É briga de cachorro grande, como diz o povo.

A questão é: qual seria o papel dos países coadjuvantes nessa guerra? Para um gigante como o Brasil, entrar nesse jogo como mero contrapeso dos Estados Unidos é uma tremenda humilhação. O país tem potencial para puxar um movimento de grande envergadura, capaz de fazer contrapontos em questões essenciais da pauta de clubes como a OCDE. É só puxar pelo fio da história que se constata como o Brasil já foi respeitado nessas disputas.

Enquanto de um lado os ricos formavam clubes como o G7, o Brasil e outros países do BRICS — especialmente a China — articulavam agrupamentos como o G77. Sua presença era notada nesses embates com a dimensão de uma economia que ocupa posição de destaque no cenário internacional. Isso acontecia porque o governo brasileiro se dava ao respeito. Não se dirigia aos ricos como o primo pobre, na feliz citação do ex-presidente Juscelino Kubitschek quando ele decidiu romper com o Fundo Monetário Internacional (FMI) 

Se fosse preciso eleger em quais áreas o governo Bolsonaro mais se mediocrizou, a política externa estaria entre os primeiras. Nesse episódio da OCDE, mais uma vez ele optou por ser pequeno, caudatário de um sistema mundial que não considera fronteiras para praticar barbaridades em nome dos seus interesses parasitários. Com isso, o Brasil se paralisa no desenvolvimento industrial e tecnológico, se limitando à política de entrega das riquezas e do seu patrimônio público.

Ainda na máxima de que a política tem a primazia sobre a economia, o governo Bolsonaro se vale da retórica estridente sobre o falso moralismo como método geral, mas dirige sua artilharia para aquilo que realmente importa em um sistema de poder com essas características entreguistas: a institucionalidade que assegura a soberania do país e os instrumentos do exercício da democracia pelo povo. Numa definição, é um governo de destruição nacional, mero serviçal da Casa Branca. A entrada na OCDE impõe regras ao Brasil decididas pelos Estados Unidos e  União Europeia — e reforça o controle imperialista. De certa forma, sem saber Trump fez um favor ao Brasil.