Forma-se um polo amplo e antagônico ao bolsonarismo

A união de forças amplas para defender a democracia com o “DireitosJá! — Fórum Pela Democracia” tem enorme significado. O movimento reúne lideranças de 16 partidos, da esquerda à centro-direita, agrupando um vasto leque da representatividade democrática do país, além de intelectuais e lideranças populares e religiosas — e começa a se espalhar. Trata-se de uma necessidade diante das ações da extrema direita. Como salientou o governador Flávio Dino (PCdoB-MA) no ato de lançamento do movimento, “não há nação soberana com o processo criminoso em curso de desmonte da pesquisa, da ciência, das universidades que está sendo feito pelo governo Bolsonaro”.

O bolsonarismo age para tentar impor ao país uma agenda de confronto com a institucionalidade arquitetada pela Assembleia Nacional Constituinte de 1988, legatária dos saltos civilizatórios que venceram etapas importantes como o colonialismo, o escravismo e os pactos oligárquicos. Essa agenda de atropelos ao Estado Democrático de Direito tenta abrir passagem para a pauta ultraliberal e neocolonial, sabotando a soberania nacional, e se apoia no obscurantismo, a negação de conquistas históricas relacionadas à diversidade e aos direitos do povo.

É uma escalada, um projeto de poder a serviço de um programa de governo muito bem explicitado nas medidas econômicas do ministro da Economia, Paulo Guedes, e na subserviência do bolsonarismo ao governo dos Estados Unidos. Essa lógica explica por que o ataque à democracia está no vértice da agenda do governo.

Para as forças democráticas e patrióticas o sentido é inverso. O país não pode abrir mão das suas garantias institucionais; elas são a condição para se debater, num ambiente civilizado, a natureza da crise e as propostas para enfrentá-la. Não é aceitável a imposição de medidas que sacrificam cruelmente o povo, valendo-se da burla ao Estado Democrático de Direito para apresentá-las como único caminho possível. O Brasil precisa reunir suas forças e se preparar para as graves consequências de um cenário internacional cada vez mais enredado em contradições.

A história brasileira conhece bem o resultado da ideologia de Bolsonaro, explicitamente referenciada nos porões nauseabundos da ditadura, símbolo máximo do ciclo autoritário iniciado com o golpe militar de 1964. Por isso mesmo, os setores que agora começam a dar forma a um amplo movimento político para isolar e derrotar a extrema direita proclamam a democracia como valor fundamental da civilização e alicerce inegociável na construção do país. Ele está cravado fundo na alma dos patriotas brasileiros.

Essa primeira demonstração efetiva de que nesse ponto há uma fenda entre democratas e a extrema direita é uma grande notícia. Ela permite dizer que avança na sociedade a consciência de que são reais as ameaças às regras mínimas de convivência democrática, que se não forem levadas a sério acabam em caos social e guerra entre concidadãos. Já existem fatos concretos para medir o tamanho do problema, o que leva à certeza de que dessa semente só vai germinar coisa ruim. Já é visível a crescente perturbação do ambiente democrático no país.

Está mais do que óbvio que o bolsonarismo não adota a democracia como mola mestra da sociedade. Ele também não assume ou honra compromissos entre os participantes do jogo democrático, como mostram os reiterados desprezos pelas regras que garantem uma convivência civilizada e pacífica entre os diversos pensamentos existentes no espectro político e ideológico do país. Em lugar do exercício democrático, o bolsonarismo adota as bravatas, o discurso fácil do oportunismo político e o denuncismo estéril.

É notável, por exemplo, a predileção do presidente por bate-bocas, obscurantismos e tentativas de levar o Brasil para becos sem saída. Em sua agenda não cabem questões como iniciativas para desenvolver o país, sanar suas mazelas, gerar mais qualidade de vida para todos. A disparidade de propostas entre essas duas vertentes é cristalina, um indício seguro de mais embates de grandes proporções pela frente. A formação desse movimento “DireitosJá!” começa a consolidar, no leque de opções existentes no país, um polo amplo e francamente antagônico ao bolsonarismo.