Resposta à calamidade de Bolsonaro

Uma figura em descrédito crescente. Essa é a imagem do presidente Jair Bolsonaro captada pela pesquisa CNT/MDA, que registrou aumento da sua reprovação de 28,2% em fevereiro para 53,7% em agosto. Outro dado que reforça essa queda de popularidade é a reprovação da intenção de Bolsonaro de indicar o seu filho, deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), ao posto de embaixador do Brasil em Washington (EUA), que chega a 72,7%.

Entre as piores ações do presidente, 24,4% apontaram a liberdade dada aos filhos para se intrometerem em assuntos de governo. À frente desse índice, contudo, está a flexibilização da posse e porte de armas (39,1%), o uso de palavras ofensivas e comentários inadequados (30,6%) e o contigenciamento de verbas da Educação (28,2%). A pesquisa alinha como desgaste da imagem do presidente também a relação com o Congresso Nacional, avaliada negativamente por 55,6%, um dado que reprova seus métodos truculentos e desdenhosos ao se dirigir ao Poder Legislativo.

Que Bolsonaro não está à altura das responsabilidades do cargo de presidente da República é fato sabido desde que ele se lançou candidato. A rigor, Bolsonaro não reúne condições nem mesmo para exercer o cargo de parlamentar. As causas que explicam sua longa carreira política devem ser buscadas na história e nas contradições da sociedade brasileira. Bolsonaro sempre foi no parlamento uma voz das reminiscências do terrorismo de Estado que vicejou nos porões da ditadura militar.

Ele não escondeu essa idiossincrasia na sua campanha para presidente da República — tampouco nega, como presidente, sua ideologia sombria —, mas incorporou à sua plataforma política a agenda neoliberal e neocolonial, agora com um perfil mais radicalizado pelas propostas do banqueiro e ministro da Economia, Paulo Guedes. Também franqueou o seu projeto às práticas arbitrárias da Operação Lava Jato.

O resultado é um governo guiado pela ideologia dos porões da ditadura militar e sustentado no projeto ultraliberal de Guedes e no falso moralismo da trupe de Sérgio Moro. Como era de se esperar, o desastre não demorou a se manifestar. A sucessão de diatribes de Bolsonaro, muitas vezes pautadas pela hipocrisia elevada ao grau máximo da Lava Jato e invariavelmente temperadas por sua ideologia execrável, mostrou, precocemente, que ele não faz nenhum esforço para se pôr à altura do cargo para o qual foi eleito.

A situação só piorou quando ele decidiu levar à prática a intenção de se submeter, incondicionalmente, às teses do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que de dedo em riste determina para onde o Brasil deve se virar. A ideia que fica para o mundo é de que o país se transformou em terra de ninguém, com oportunistas de todo tipo se achando no direito de se apresentar como salvacionistas, passando por cima da autoridade do povo brasileiro — como se vê agora com a escalada retórica do presidente da França, Emmanuel Macron, expressando propósitos intervencionistas.  

Por vias oblíquas, o mandatário francês proclamou a verdade de que os brasileiros precisam de um presidente que se comporte à altura. Mas essa é uma missão dos brasileiros, que são suficientemente capazes de decidirem seus próprios destinos. A história do Brasil está repleta de exemplos de que quando aventureiros sem escrúpulos se organizam para tomar o poder a resposta não demora. E ela tem sido implacável. O colonialismo pela Independência, o escravismo pela Abolição, os pactos oligárquicos pela República e suas constituições democráticas.

Mais uma vez, o desafio que se apresenta para o povo brasileiro é o de responder a esse estado de calamidade com um projeto político capaz de agrupar todos os setores que pressentem o agravamento da situação. Desde os que se lançaram na aventura bolsonarista na esperança de domar o presidente e ter seus interesses contemplados no governo — em especial o chamado setor produtivo — até as organizações que tem na defesa da pátria, da democracia e dos direitos do povo a razão da sua existência.