A irresponsabilidade de Bolsonaro e Guedes

Pode-se dizer que a forma como o governo Bolsonaro trata o rápido agravamento da crise econômica é uma irresponsabilidade. Seu ministro da Economia, Paulo Guedes, apegado à ortodoxia da Escola de Chicago como se fosse um guia genial para a cura de todos os males do país, não faz um gesto sequer no sentido de ao menos indicar alguma perspectiva de ação para enfrentar o problema. E assim ele vai entoando o seu samba de uma nota só, a panaceia da “reforma” da Previdência Social, que, segundo o seu proselitismo, vai fazer a economia crescer, gerando empregos aos milhões e felicidade geral para todos.

Seu diagnóstico é de um país muito diverso do Brasil real, embalado por um vocabulário sob medida para sofismar, mistificar e ludibriar. Por mais complexo e multiforme que seja o problema, ele tenta simplificá-lo com gráficos e diagramas, sem considerar a necessidade de justificar suas ideias com informações e análises concretas. Não faz sentido essa sua falação toda, assim como o silêncio absoluto de Bolsonaro sobre a gravidade da crise, quando a cada dado da economia divulgado o abismo aparece mais próximo e mais profundo.

Depois do PIB bolosonarista de 0,2% negativo, medido nos três primeiros meses do governo, a perspectiva é de que o próximo trimestre terá resultado parecido. De acordo com o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), em abril esse indicador caiu 0,47% em relação ao nível de março e 0,62% na comparação com o valor de um ano antes. E assim um efeito vai gerando outro, criando um clima de insegurança que afeta o consumo e a produção. Os dados dos setores do comércio, serviços, veículos e materiais de construção também são desalentadores.

Diante desse cenário, começam a surgir na mídia informações de pressão sobre o Banco Central (BC) para cortes dos juros básicos, a redução da taxa Selic. Mas, com a pasmaceira do governo, dificilmente essa medida se concretizará. Além do mais, ela não teria força para reativar a economia, mergulhada numa longa letargia e pressionada pela crise internacional. Seria a hora de uma ação do Estado, se utilizando dos seus instrumentos de fomento — bancos públicos e estatais — para prover investimentos e dar o primeiro giro na roda da economia e fazê-la engrenar.

Mas, no mundo real, além do lero-lero de Paulo Guedes e do desinteresse de Bolsonaro, o que se tem são más notícias também no âmbito político. Em meio à balbúrdia em que se transformou o governo, surgem anúncios como esse de que a saída do presidente do BNDES, Joaquim Levy, servirá para restituir ao banco de fomento o papel de gestor das privatizações — como foi nos anos 1990. Como a instituição perdeu relevância na economia com a redução do crédito, ela reassumiria a função de comitê de administração das privatizações.

Não cabe dúvida de que o Brasil passa por uma das mais graves crises social da história. Algo que pode ser comparado à grande depressão dos países industrializados nos anos 1930. Naquele tempo, a gravidade da situação resultou em opções dramáticas, como o caminho nazi-fascista. O momento é de olhar para a história e buscar forças políticas capazes de fazer o deslocamento do eixo da economia da acumulação no sistema financeiro especulativo para o sistema produtivo.