Bases políticas para tirar o Brasil do buraco

As trapalhadas do governo Bolsonaro avançam simultaneamente nas frentes política e econômica. Cada lance das patetices governamentais mostra que fica difícil estabelecer em qual seara se dará a próxima crise. No recente entrevero deflagrado pelos olavistas contra os militares, o presidente da República fez questão de deixar claro que não dará as costas para o seu "guru" dito filósofo, Olavo de Carvalho, fato que projeta novas crises e novos confrontos.

Essa é a superfície do problema. A crise verdadeira, em suas reais dimensões, está na aplicabilidade do programa de governo eleito em 2018. As maquiagens típicas dos processos eleitorais da direita cedo desbotaram e já ficou evidenciado para grande parte da população que as promessas de Bolsonaro eram contos de fada, hipocrisias e promessas sem nenhuma viabilidade. Elas significavam para o eleitor a promessa de melhorias sociais e infraestruturais no país.

Nenhuma ''reforma'' ou medida privatista de cunho ultraliberal e neocolonial foi claramente referendada pelo pleito de 2018. Elas vieram a reboque do processo golpista — são as cláusulas do contrato escritas em letras minúsculas. Por mais que o governo tente forçar o convencimento, a cada dia seu programa vai se revelando na sua inteireza e se mostrando uma impossibilidade evidente de se traduzir nos resultados prometidos, como a retomada do crescimento econômico seguido de suas benesses em abundância.

As pesquisas mostram que um setor significativo da população já faz a baldeação para a oposição. Conta, nessa transição, os fatos, os efeitos da crise que produzem catástrofes como a astronômica cifra de desempregados sem perspectivas de colocação no mercado de trabalho. Mas conta também a atuação dos agentes políticos da oposição, como se viu nas recentes patacoadas do ministro da Fazenda, Paulo Guedes, na Comissão Especial da Câmara que analisa a proposta de "reforma" da Previdência Social.

Nesse balanço de forças, as peças do jogo político vão se agrupando num amplo campo que, rapidamente, vai se coesionando para isolar e derrotar a extrema direita. Mesmo no governo há possibilidade de agravamento das fraturas, o que certamente fragilizará ainda mais a administração de Bolsonaro. O importante, nesse momento, é a atenção redobrada ao rumo que uma crise como essa pode tomar.

Nessa conjuntura de alta complexidade, com o governo precocemente caindo pelas tabelas e a economia do país em frangalhos, conta muito a consequência política, a firmeza na definição de cada passo. Mais importante do que qualquer outra coisa é a defesa do país e dos direitos do povo. Nessa equação, entram diferentes setores da sociedade, cada qual com suas nuances e interesses, mas que sabem do risco que paira sobre a nação.

Ao se formular essa concepção de que a tarefa prioritária é a defesa dos fundamentos da nação, a começar pela restauração plena do regime democrático, emerge a concepção de união ampla como o norte, a baliza para uma plataforma política consequente. Compreender as contradições, firmar compromissos prioritários, apontar horizontes a serem seguidos e pavimentar caminhos para a superação da crise são elementos essenciais nesse processo.

Há, nessa realidade brasileira, o fato de que a crise atingiu uma extensão que põe em risco todo o aparelho econômico do país e esgarça rapidamente o tecido social. Isso facilita a busca de uma saída por meio de forças amplas e diversificadas. O programa ultraliberal e neocolonial, aliado às desavenças nas entranhas do governo, agrava rapidamente o problema. Há muito ainda a ser clareado, decantado, para se definir o esquadro da crise. A compreensão política para uma saída deve ser buscada a partir de um diálogo amplo. Nesse processo, as forças mais avançadas como polo impulsionador têm papel decisivo.