Alckmin: imagem nítida da direita neoliberal

Depois de três meses de disputa, desavenças e negociatas, o PSDB optou por uma face sem maquiagem. Sem despistes ou fantasia. Ao anunciar o nome de Geraldo Alckmin, a legenda tucana indica que escolheu concorrer à Presidência da República com uma cara que expressa, sem devaneios, seu conservadorismo neoliberal. Usando outras palavras: decidiram por uma campanha frontal, sem disfarces. Um programa e um candidato que na aparência e na essência representa a elite conservadora que nunca engoliu a derrota de 2002 e que raivosamente, desde lá, arquiteta um ambicionado plano para reaver o poder de mando e os privilégios.

Prova inicial disso foram os editoriais e artigos que se alastraram pela imprensa local e mundial, ressaltando o regozijo do mercado e a alegria dos banqueiros ante a escolha de Alckmin. Tais artigos não disseram, mas é claro também que houve festança na "casa grande" dos latifundiários –  pela conhecida ação do governador de São Paulo contra a reforma agrária.

Para se demonstrar o que representa um candidato, além do popular ditado "diga com quem andas que eu te direi quem és", há uma referência que antecede esse adágio sobre as companhias, que é, exatamente, o currículo do homem público. Adiante se falará um pouco sobre as companhias do candidato do PSDB, mas primeiro vale pena dar uma olhada no seu currículo.

Segundo seus correligionários o maior trunfo do candidato tucano seria sua atuação, ao longo de quase doze anos, como vice-governador e governador de São Paulo. Contudo, um exame mais detido, sem o filtro da mídia que dá o brilho do diamante ao cascalho, verá-se que o apregoado ponto forte pode ser, na verdade, o calcanhar de Aquiles.

A gestão de Geraldo Alckmin foi, por excelência, uma administração marcada por uma ortodoxa orientação neoliberal (símbolo disso foi a ostensiva política de privatização), por um desprezo aos problemas sociais e por uma atitude autoritária em relação aos movimentos sindicais e populares.

Ele como presidente do Conselho Estadual de Desestatização ou como governador comandou o desmonte do Estado paulista. Em processos irresponsáveis, alvos de inúmeras denuncias de irregularidades, Alckmin "torrou", o Banespa, a Fepasa (ferrovias), a Eletropaulo (concessionária de energia) a Comgás e a Companhia Paulista de Força e Luz. Além de enfraquecer outras empresas como a Sabesp e o banco Nossa Caixa. É fácil imaginar, portanto, o que acontecerá com a Petrobrás, com a Caixa Econômica, com o Banco do Brasil, com Furnas, se Alckmin for eleito.

Ante o terrível drama social reinante em São Paulo decorrente em grande parte dos dois governos de FHC e da própria gestão de Alckmin, o governo paulista cortou os recursos destinados à saúde, educação, moradia etc… o que provocou a degradação dos serviços públicos, por outro lado arrochou os salários dos servidores. Num país em que apesar dos avanços ainda há um passivo social gigantesco, é possível também se prever o desastre que seria a política social do governo tucano.

Em relação à democracia o reinado de Alckmin foi um desastre. Um governo retrógrado avesso ao diálogo, que despreza os movimentos sociais e que persegue suas lideranças. Um governo que desenterrou a concepção dos piores presidentes da República Velha para os quais a luta do povo era "um caso de polícia". Dessa maneira, tudo fez para criminalizar a luta pela terra e pelo direito à moradia. Em especial o Movimento Sem Terra (MST) foi vítima dessa política.

Em seus primeiros pronunciamentos como candidato Geraldo Alckmin tem falado que sua campanha lançará um projeto nacional de desenvolvimento. Contudo, ao se examinar a dinâmica da economia paulista sob sua gestão, verifica-se que será difícil dar credibilidade a essa pregação tucano-desenvolvimentista. Primeiro, pelo desastre econômico que representou os dois governos de FHC; segundo pelo fato de que São Paulo conhecido como a locomotiva da economia nacional andou muito devagar tendo "Geraldo" como maquinista. Seguiu à risca o modelo do "chefe": a dívida do Estado de São Paulo ano passado beirava o R$ 130 bilhões, a concentração de renda é altíssima e o maior referencial de seu governo são os banqueiros da Febraban.

Depois dessas poucas pinceladas sobre o currículo do candidato, duas palavras sobre suas companhias prediletas que bem confirmam seu perfil conservador com um bom bocado, inclusive, de obscurantismo. Em relação a esse último aspecto, destacam-se aqui os seus vínculos históricos e atuais, conforme largamente divulgado pela mídia, com a retrógrada seita católica Opus Dei. Consta que expoentes dessa seita são recebidos na sede do governo paulista com as honrarias e deferências proporcionais às influências que exercem sobre o atual chefe do Palácio dos Bandeirantes. A outra companhia é mais conhecida e dispensam-se comentários. Trata-se do PFL de Jorge Bornhausen, ACM etc… Estes, ao menos, momentaneamente, não proclamaram sua adesão a candidatura Alckmin, pois precisam, entre outras coisas, de tempo parar esquecer os sonhos que traçaram para a prefeitura de São Paulo, caso o indicado tivesse sido Serra.

No que tange, ao campo das forças que lutam por uma nova vitória das forças progressistas – a reeleição do presidente Lula – seria ilusório superdimensionar as seqüelas da disputa tucana. O confronto será duro, a vitória é possível, mas exigirá sabedoria política e muita luta. A escolha de Geraldo Alckmin aponta para um programa nitidamente neoliberal, sem maquiagens ou disfarces. A vitória de um candidato com esse perfil tanto para o processo de mudanças que ocorre no Brasil quanto da América do Sul teria um efeito demolidor. Este fato eleva a responsabilidade das forças patrióticas, populares e democráticas e, em especial da esquerda, para enfrentar e vencer essa ameaça de retorno aos piores momentos de neoliberalismo dos anos 90 – ameaça representada pela candidatura de Alckmin.