Política externa de Bolsonaro é ameaça à soberania nacional

O anúncio pelo presidente eleito Jair Bolsonaro do diplomata Ernesto Henrique Fraga Araujo para o ministério de Relações Exteriores é uma confirmação do ditado popular de que sempre dá para piorar o que já está ruim.

Em primeiro lugar pelo desconforto que a nomeação de um diplomata obscuro e sem nenhum posto anterior de destaque provoca na diplomacia brasileira. “É uma pessoa de perfil bem baixo, sendo de se questionar que tipo de liderança poderá ter”, comenta-se no Itamaraty, sede da diplomacia brasileira.

Mas este inconveniente, está longe de ser a questão principal, que é político e se manifesta nas ideias retrógradas de Araújo. Sua nomeação sinaliza o reforço de uma política externa de subordinação às imposições dos EUA, como deixa claro em sua bajulação a Donald Trump, e no o que tem dito e escrito. Representa também uma ruptura com a tradição da diplomacia brasileira de intermediação nos conflitos, sem tomar lado entre as partes e buscando sempre construir o diálogo. Bolsonaro aprofunda a postura de Michel Temer cuja política externa tem primado por endossar o intervencionismo dos Estados Unidos na América Latina, como é notório no caso da Venezuela.

Araujo, conhecido por suas ideias reacionárias, considera Trump como a “salvação” do Ocidente que vê, como o presidente dos EUA, ameaçado por um assim chamado “terrorismo islâmico radical” e principalmente pela falência da “identidade” do Ocidente, que no passado se expressou de maneira simbólica, política, nas relações de domínio, e de uma pretensa superioridade, da Europa e dos EUA sobre os demais países. Superioridade que, pensa o diplomata direitista, deve ser restaurada.

Esta é a posição claramente ideológica que Bolsonaro escolhe para dirigir a diplomacia brasileira. Posição que se manifesta inclusive na citação elogiosa, num artigo de Araujo, do escritor alemão Oswald Spengler que, num livro publicado em 1918, identificou semelhante ameaça e deu ao livro o título apropriado de “Decadência do Ocidente”. Spengler estava ideologicamente à direita de Adolf Hitler e dos nazistas, com os quais rompeu acusando-os de “plebeísmo” pelo apelo popular de sua doutrina e por não colocar, no centro de suas preocupações, a salvação da aristocracia européia. 

Ao definir o “Ocidente” como “uma comunidade de nações”, Araújo indica a orientação ideológica de extrema direita que estará à frente da diplomacia brasileira, e vai tentar destruir aquilo que foi construído desde o Barão de Rio Branco.

Estará no alvo as realizações de uma política externa que, nas duas últimas décadas, reforçara a soberania nacional. Entre elas as relações com o Mercosul, a aliança com os vizinhos da América do Sul e da África, as boas relações com o Brics (China e Rússia principalmente). Se o ideário de subserviência de Bolsonaro e de seu chanceler for implementado o Brasil ficará menor no concerto das nações e perderá seu protagonismo na medida em que submete-se aos interesses de uma potência decadente e se fecha para o multilateralismo crescente nas relações internacionais. A consequências serão graves para a soberania nacional e, sobretudo, para o comércio brasileiro que, hoje, tem parceiros em todos os cantos do planeta – e não apenas nos EUA e na Europa.