Datafolha mostra disputa entre projetos opostos

O resultado da pesquisa Datafolha deste 14 de setembro revela com nitidez os dois campos que disputam as eleições presidenciais. O crescimento acentuado do candidato Fernando Haddad, como era esperado, dá um sentido mais definido sobre os anseios do eleitorado. Ao atingir 13%, saindo dos 4% da pesquisa de 22 de agosto e empatando com Ciro Gomes, ele consolida uma posição de densidade eleitoral do campo progressista. Essa arrancada também revela o enorme potencial de crescimento da sua candidatura, uma tendência que se sustenta pela consistente ascendência dos seus índices de intenção de voto.

A equação que sustenta esse teorema é a consistência do programa de governo da chapa Fernando Haddad-Manuela d’Ávila, fundado em propostas com credibilidade junto ao povo por ter demonstrado no ciclo golpeado em 2016 que é possível dizer e cumprir, prometer e fazer, ao mesmo tempo em que a realidade do país mostra com clareza onde vai dar o caminho golpista. A persistência da liderança de Bolsonaro nas pesquisas pode ser contabilizada como produto da dicotomia que se estabeleceu nesta corrida presidencial.

No campo conservador ainda há uma certa dispersão, com um setor da direita tentando empurrar a candidatura de Geraldo Alckmin, que insiste em patinar no atoleiro da mesmice, na associação do que ele propõe com o que vem fazendo o governo golpista de Michel Temer. Chama atenção ainda o desempenho de Marina Silva, que, pior do que Alckmin, despenca nas pesquisas.

Esse cenário aparentemente complexo tem um pano de fundo com cores bem definidas. Bolsonaro mergulhou no mundo das finanças com seu programa de governo radicalmente comprometido com o projeto ultraliberal e neocolonial capitaneado por seu guru econômico Paulo Guedes, homem sabidamente enfronhado nesse meio, e assim vai caindo nas graças das oligarquias do rentismo. Há uma boa dose de insegurança, entre eles, quanto ao seu destempero verborrágico protofascista, mas, nesse mundo sem face e sem coração, esse é um aspecto considerado secundário.

Nesse jogo, Fernando Haddad passa a ser o alvo de toda a artilharia do campo conservador. Já há ensaios de reedição do que ocorreu com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2002, quando a direita tentou espalhar pânico no “mercado”, apresentando o programa de governo popular como uma ameaça. O objetivo era mostrar Lula como um fantasma que poderia levar o país à instabilidade, gerando consequências imprevisíveis, uma ação de propagação do medo como tática eleitoral. Lula contornou esses obstáculos e chegou à Presidência da República com a bandeira do desenvolvimento com progresso social no ombro.

Com Haddad despontando com potencial de chegar ao segundo turno em condições de vencer as eleições, num ambiente em que a direita luta desesperadamente para manter o país no caminho do programa do golpe, essa prática agora tende a ser ainda mais selvagem. Obviamente que, com o ânimo da militância progressista revigorado por esses resultados, esse pendor à selvageria pode ser relativizado, com resultados aquém do pretendido pela direita. Seja como for, o cenário de disputa acirrada entre dois programas e dois campos opostos será cada vez mais eletrizado. São duas formas de campanha, sendo que a do campo progressista tem muito mais potencial de arregimentação popular.