Pesquisa Datafolha frustra a direita e empolga a esquerda

Ao contrário das expectativas criadas de que haveria substancial crescimento das intenções de voto no candidato Jair Bolsonaro, após o episódio em Juiz de Fora, a pesquisa Datafolha registrou que ele oscilou positivamente apenas 2%, dentro da margem de erro. Não surtiu efeito a nítida tentativa de inflar sua candidatura, com a superexposição da imagem convalescente do candidato por quatro dias na mídia, somada ao recurso de depurar sua imagem; de pregoeiro da violência, passou a ser apresentado como a grande vítima do processo eleitoral.

Noticiou-se até que a cúpula da sua candidatura encaminhava-se para uma conduta mais equilibrada, mesmo com Bolsonaro fazendo apologia à violência, com o gesto de quem empunha uma arma, no leito do hospital. Circularam também notícias dando conta de migração de investidores para a sua candidatura, de Wall Street à Avenida Faria Lima, o centro financeiro paulistano. Ainda como parte desse movimento, saiu a pesquisa do banco BTG-Pactual, na manhã em que o Datafolha saiu a campo para medir as intenções do eleitorado, apontando Bolsonaro atingindo o patamar de 30%.

As manobras, contudo, não foram suficientes para mover o candidato da sua posição anterior. Pelo Datafolha, Bolsonaro permanece tecnicamente na mesma posição que tinha na pesquisa de 21 de agosto. Ao mesmo tempo, sua rejeição pulou de 39% para 43%, um dado tão ou mais relevante, negativamente para ele, do que o seu magro crescimento. Outro dado relevante é que Bolsonaro perde para todas as candidaturas no segundo turno, de acordo com a pesquisa. Ou seja: como se diz no popular, a montanha pariu um rato.

O destaque positivo dos esperados números do Datafolha foi o crescimento de Fernando Haddad, de 4% para 9% — o candidato que mais cresceu —, empatando tecnicamente com os demais que ocupam o segundo lugar (Ciro Gomes, Marina Silva e Geraldo Alckmin). Ressalte-se que esse salto se deu antes da oficialização da chapa Haddad presidente e Manuela d’Ávila vice.

Houve ainda a atuação da Justiça Eleitoral, que impôs uma série de restrições para impedir ou dificultar a aparição da imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na propaganda eleitoral, mesmo ele não sendo apresentado como candidato. Outro fato positivo foi o crescimento da candidatura de Ciro Gomes, também campo progressista, de 10% para 13%.

Em contraste com esses dados, a situação de Geraldo Alckmin permanece estacionária. Praticamente estagnado, oscilou de 9% para 10%. Passados dez dias de propaganda eleitoral no rádio e na televisão o tucano revelou que não tem potencial, pelo menos até agora, de cumprir a promessa de decolar com a ampla exposição das suas propostas. A fragmentação de candidaturas no campo conservador continua sendo uma barreira para o seu crescimento. Além dos percentuais de Bolsonaro e Marina Silva (que declinou 5%), há as candidaturas de Álvaro Dias, Henrique Meirelles e João Amoêdo, todas flutuando em torno de 3%.

Chama a atenção, também, a queda de votos brancos e nulos, de 22% para 15%, um indicativo de que o eleitorado começa o movimento de fazer suas opções. Como Haddad foi o que mais cresceu, ao passo que Bolsonaro estagnou, é possível prognosticar que Alckmin retome a sua tática de campanha de atacar o líder da pesquisa, interrompida com o episódio de Juiz de Fora. Por sua vez, o crescimento da candidatura de Haddad, às vésperas da sua oficialização, é um fator a mais para intensificar o movimento de transferência de votos do ex-presidente Lula para a chapa progressista.