Firulas eleitoreiras de Geraldo Alckmin

Jogar para a plateia. Esta tem sido a tática eleitoral do candidato presidencial tucano Geraldo Alckmin para abrir caminho entre seus concorrentes do campo conservador. Após iniciar a campanha no rádio e na televisão com ataques a Jair Bolsonaro, ele aponta as baterias para o passado querendo passar a ideia de que o governo do presidente golpista Michel Temer faz parte de um mundo distante da sua realidade. De acordo com a versão tucana, a pasmaceira golpista tem como únicos responsáveis a ex-presidenta Dilma Rousseff e o traidor Temer, quando na realidade tanto o candidato tucano quanto o seu time são partícipes e protagonistas de toda a fraude do impeachment.

Essa jogada de marketing é a conhecida firula, que pode ter alguma arte mas nenhuma objetividade. Quem olha para essas cenas com lentes argutas vê, na verdade, lances patéticos, de sentido diversionista para não dar importância ao debate real, como se nele não estivesse hipotecado o futuro da nação. Alckmin joga para a plateia exatamente para fugir do confronto programático e das vozes convictas que denunciam a natureza das mazelas golpistas e anunciam um novo caminho para o Brasil e os brasileiros, com desenvolvimento, progresso social e democracia.

Vagando pelo seu mundo fake, o candidato do PSDB também julga que pode romper a barreira entre a dureza das suas reais propostas de governo e a realidade do povo, pregando preocupação social e sentimentos humanitários, conforme diz o seu jingle ao proclamar que “Geraldo é cabeça e coração” – um flagrante contraste com a rudeza dos números que ele pronuncia friamente, sem mover um músculo da face, para passar a imagem de “gestor responsável”. Para viabilizar o “vale-gás”, por exemplo, Alckmin prometeu “um ajuste fiscal muito forte”.

As fanfarronadas panfletárias do tucano, no entanto, podem ter méritos. Um deles é o de explicitar que não é possível misturar alhos com bugalhos quando o assunto é governar o país. Toda a pregação da direita, como mostram os editoriais da mídia, indica que o país precisa ter como prioridade o arrocho nas contas públicas, o famigerado “ajuste fiscal”. No popular, isso quer dizer que o Brasil voltaria àquela calamitosa teoria do bolo, da ditadura militar, uma proposta monetária-culinária que mandava o povo ficar de fora das benesses do crescimento para, quem sabe no futuro, receber alguma fatia do PIB.

Esse modelo se reproduziu nas décadas de 1980-1990, sacrificando o desenvolvimento do país e a vida da população em nome de uma nova era que só deu o ar da graça quando houve a ruptura com as receitas ortodoxas no ciclo de governos democráticos e progressistas dos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Aí, sim, o povo pôde sentir o gosto do tão sonhado bolo.

Ou seja: a novilíngua de Geraldo Alkmin, tentando conciliar o social com o ultraliberal, passa longe do mundo da realidade e se revela mera demagogia eleitoreira barata. O que está em questão, neste debate eleitoral, é precisamente a direção que deve ser tomada nas urnas de outubro diante dessa encruzilhada histórica: o prosseguimento na direção da ordem neoliberal-ortodoxa restaurada com o golpe de 2016 ou a retomada do caminho progressista do ciclo golpeado.

Geraldo Alckmin é apenas a expressão mais visível desse time que joga no campo conservador. O sectarismo monetarista está presente nos programas de todos os candidatos da direita – de Alckmin a Bolsonaro, passando por Marina, Meireles, Álvaro Dias e Amoêdo –, defendendo um modo de governar de costas para o povo e voltado para a condução da nação, governando o país como eles conduzem suas empresas, terras e mansões.

Às portas das votações, contudo, a imensa maioria dos brasileiros sente o gosto azedo das opções que se oferecem no campo conservador. Mas não se deve subestimar a utilização meramente pragmática que as classes dominantes fazem das eleições. Na contramão desse movimento, é preciso valorizar o debate real, se contrapondo à desinformação, à falta de seriedade com os eleitores e expondo enfaticamente o sentido democrático das propostas do campo progressista-desenvolvimentista.