Votar pelo Brasil e derrotar a mídia de direita

A grande imprensa, a mídia patronal, sempre foi, no Brasil, extremamente conservadora. Não podia ser de outra forma. Ter um jornal para intervenção política sempre foi – desde o Império – privilégio de endinheirados, donos de capital e dos meios necessários para montar uma empresa jornalística. Era comum que, ao perder uma eleição – e o mandato – políticos de destaque no Parlamento montassem um jornal para fustigar os adversários – ou o governo – para pavimentar sua volta.

Há um excelente livro, com sugestivo título, que trata do assunto na época da independência: e Insultos Impressos. A Guerra dos Jornalistas na Independência (1821-1823), publicado pela historiadora Isabel Lustosa, em 2000. Há também o magnífico romance de Lima Barreto, Recordações do Escrivão Isaias Caminha (1909) ambientado na redação do jornal carioca da época, Correio da Manhã. O livro revela um mal-trato da verdade, naquela época, semelhante ao que ocorre em muitas grandes redações atuais.

São escassos os exemplos de predomínio da democracia – pode-se lembrar da revolução que foi a publicação de Ultima Hora (1951-1964), ou de diversas redações em São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais onde prevaleceu um amplo clima democrático sobretudo na década de 1970 e meados da década seguinte.

Nos últimos anos – desde a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, cresceu acentuadamente na maioria das redações, escritas, de rádio e televisão, o mesmo conservadorismo tacanho e estreito tradicional na imprensa brasileira, que sempre teve lado na política e na sociedade – o lado dos poderosos, dos ricos e dos privilegiados.

A indecorosa postura vista na imprensa brasileira de nossos dias, e sua incorrigível e tomada de posição ante a eleição de outubro, é a postura e a defesa de interesses contrários aos do Brasil. Contra a economia nacional, o povo e a democracia. Basta que se lembre da clamorosa campanha contra Getúlio Vargas, que o levou ao suicídio em 24 de agosto de 1954; ou a campanha, que se dizia contra a corrupção e o comunismo, que levou ao golpe contra João Goulart, em 1964, e deu início à ditadura militar que durou 21 anos. Ou à vergonhosa manipulação no debate televisivo na eleição de 1989, para favorecer o candidato Fernando Collor de Mello e prejudicar Luiz Inácio Lula da Silva – e que resultou em desastre semelhante ao que o país vive desde 2016, quando Dilma Rousseff foi deposta com amplo apoio da mídia conservadora, golpe que levou ao poder o ilegítimo Michel Temer, que infelicita o país.

Agora, na eleição que poderá eleger um novo presidente para levar  país de volta à rota democrática e à retomada do desenvolvimento, a mesma mídia secularmente golpista institui-se num singular tribunal. Profere a sentença condenatória e a executa seus adversários, aqueles que respeitam os interesses populares, à economia brasileira e à soberania nacional.

O DNA conservador da grande mídia brasileira se expõe, em nosso tempo, de maneira desavergonhada e indecorosa. Nas eleições presidenciais de 2002, 2006, 2010 e 2014, fez de tudo para derrotar as forças democráticas e progressistas. Assumiu despudoradamente o protagonismo como partido de oposição aos governos de Lula e Dilma Rousseff, como declarou a então presidenta da Associação Nacional de Jornais, Judith Brito. Cabe ao eleitor, nas urnas, dar o recado que falta – a mídia não decide. Deve noticiar. E com criterioso respeito à verdade e à vontade popular manifesta nas urnas.