França: forças progressistas devem se unir para enfrentar Macron

A França escolheu neste domingo (7) entre dois candidatos conservadores o presidente da República para os próximos cinco anos. Votou entre a direita do banqueiro Emmanuel Macron e a extrema-direita de Marine Le Pen.

Macron venceu por uma margem de 65% dos votos. A vitória foi numericamente grande. Mas é frágil: quase metade dos eleitores votou nele como um mal menor ante a ameaça da vitória da extrema-direita. Pesquisas mostram que 43% de seus eleitores o escolheram para evitar a eleição de Le Pen, e apenas 16% apoiaram seu programa.

A grande mídia, o sistema financeiro e o neoliberalismo venceram com Macron. O fantasma de um Frexit, caso Le Pen vencesse e repetisse o Brexit, levando a França a abandonar o bloco europeu, deve ter causado insônia em muitos financistas neoliberais. Com a vitória de Macron, eles poderão dormir em paz.

Mas nem tanto. A realidade que se estende à frente do eleito não é rósea.

A eleição presidencial francesa deste ano foi atípica, e as grandes forças que nos últimos anos fizeram o rodízio na Presidência da República – a direita tradicional e os socialistas – ficaram de fora, substituídos pela direita disfarçada como moderna de Macron e pela extrema-direita de Le Pen.

A vida de Macron como presidente poderá ter pela frente grandes obstáculos. Seu programa, de restrições às aposentadorias e à Previdência social, de cortes em investimentos públicos e ameaças aos direitos dos trabalhadores não é bem aceito pelos eleitores franceses, que só votaram nele para barrar a extrema direita.

Macron enfrentará um novo teste das urnas daqui a um mês, em junho, quando ocorrerá a eleição para a Assembleia Nacional e nela a oposição, de esquerda e de direita, à globalização neoliberal poderá ser fortalecida, gerando dificuldades para o novo presidente.

Pela esquerda, emerge uma força consistente unida em torno da França Insubmissa de Jean Luc Mélenchon, que reuniu também o Partido Comunista Francês e a Frente de Esquerda. E que poderá ser fortalecida na eleição de junho.

Em nota publicada após a divulgação do resultado eleitoral, o secretário nacional do Partido Comunista Francês, Pierre Laurent, destacou o papel da esquerda e dos comunistas na derrota da direitista Marine Le Pen, reafirmou a oposição às políticas neoliberais de Macron, e – sobretudo – fez um apelo à unidade da esquerda e dos democratas na eleição legislativa de 11 e 18 de junho. É preciso, afirmou, “construir a vitória de uma verdadeira mudança de política que liberte a França da tutela dos mercados financeiros, que proclame que ‘o humano é prioritário’ e combata a dominação da finança”.

Ele sinalizou a resistência às políticas neoliberais que Macron vai tentar impor aos franceses.

Macron terá pela frente a oposição das centrais sindicais, que rejeitam o neoliberalismo imposto pela finança internacional, na Europa representada pelas autoridades de Bruxelas e Frankfurt.

Como Macron se comportará ante o sentimento popular francês que não aceita as imposições da globalização neoliberal? Esta é a incógnita que surge das urnas francesas neste domingo.