Marcha histórica em defesa da ciência

Uma inédita manifestação mobilizou milhares de pessoas em mais de 500 cidades de diferentes países neste sábado (22). Cientistas, professores, pesquisadores, estudantes de graduação e pós-graduação, além de parlamentares e lideranças sociais ocuparam as ruas em cerca de 70 países para participar da Marcha pela Ciência. No Brasil, pelo menos vinte cidades participaram da marcha.

A iniciativa partiu de 220 organizações científicas e institutos de pesquisas de todo o mundo que identificaram problemas comuns entre seus países, particularmente o corte de verbas. As políticas de restrição de gastos públicos afetam especialmente as universidades e, no caso dos Estados Unidos, até mesmo a agência espacial Nasa foi atingida.

Já o governo golpista de Michel Temer mostrou a pouca relevância que dá à ciência ao incorporar o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação ao Ministério das Comunicações. Na prática extinguiu um órgão de primeiro escalão dedicado ao desenvolvimento científico. A consequência imediata foi a redução em quase 50% do orçamento destinado ao setor – o menor nos últimos 12 anos –, medidas restritivas que levarão à extinção do programa Ciência de Sem Fronteiras, cortes profundos nas bolsas de estudos e de pesquisa e a adoção de medidas que provocarão um retrocesso nos avanços obtidos nas universidades.

Os cortes impostos às universidades públicas brasileiras resultarão em quantidade insuficiente de bolsas de iniciação científica, sucateamento de laboratórios, interrupção de projetos de pesquisa e um consequente desestímulo para os jovens estudantes e pesquisadores. Uma sinalização muito negativa para o futuro do país e seu desenvolvimento soberano.

O que se prenuncia é um profundo retrocesso em contraposição ao significativo avanço do Brasil em termos de pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico. Nos anos recentes vale destacar: o crescimento da produção agrícola e dos rebanhos, que nos colocam entre os maiores produtores de alimentos do mundo, e o desenvolvimento de nossa tecnologia para exploração de petróleo em águas profundas; o processo de enriquecimento de urânio; da produção de vacinas e biofármacos; da química; da engenharia aeroespacial; de tecnologias da informação.

A conclusão a que chega a presidenta da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, é desanimadora. “Com o contingenciamento, não temos como sobreviver. E isso não vem deste ano. Vem de alguns anos”, afirmou.

Nas palavras do reitor da Universidade Federal do Ceará, Henry Campos, “esses atos refletem a ignorância, cruel para o país, de um governo que abriu mão do protagonismo do Brasil na ciência mundial e abriu mão da ciência como instrumento de geração de bem-estar e riquezas para os brasileiros”.

A histórica Marcha pela Ciência é um acontecimento alvissareiro nesse oceano de atraso e obscurantismo que vive o mundo e de retrocessos em que vive o Brasil sob o governo golpista de Michel Temer, prestes a completar um ano. A mobilização da comunidade científica deve se estender à toda a população, que acaba sendo a maior prejudicada pelos cortes nos investimentos na ciência.

A mobilização ocorrida no sábado precisa se manter viva e contaminar positivamente cada instituição de pesquisa, as universidades e institutos; precisa se integrar à mobilização que ganha corpo no Brasil em defesa dos direitos sociais e contra as reformas da Previdência e trabalhista. A mão que corta verbas para a ciência é a mesma que quer extinguir conquistas históricas dos trabalhadores brasileiros e os avanços civilizatórios obtidos ao longo de décadas. Somente assim, com uma extensa e vigorosa participação da sociedade, o Brasil poderá retomar o rumo do progresso social e do desenvolvimento.