Vitórias do governo indicam recomposição da base no Congresso

“Foi por um triz!” – este foi o comentário do líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE) sobre a votação ocorrida na noite de terça-feira (17) no Congresso Nacional sobre a chamada “pauta-bomba” com a qual a oposição tentava colocar o governo Dilma Rousseff contra a parede. “Mas foi uma vitória”, comemorou ele. Vitória reafirmada em outra votação dos vetos presidenciais ocorrida nesta quarta-feira (18).

A avaliação do deputado José Guimarães foi precisa. A aprovação dos vetos da presidenta Dilma Rousseff raspou a trave, para usar a linguagem do futebol. Mesmo assim o resultado foi comemorado como essencial para manter o ajuste nas contas do governo.

São fatos que terão repercussões fortes na conjuntura política; foram inequívocas conquistas políticas do governo e, sobretudo, da presidenta Dilma Rousseff. Principalmente quando se leva em conta que podem apontar para a recomposição da base governista no Congresso Federal.

Elas se somam a outros acontecimentos que indicam o mesmo rumo.

Um deles foi o fiasco da manifestação da direita, pelo impeachment, que ocorreu no domingo (15). Nela, a pequena participação indica talvez um esvaziamento da pauta oposicionista. Ou o cansaço em torno dessa demanda feita pela direita e pelos conservadores.

O cenário de outro acontecimento importante foi o congresso da Fundação Ulysses Guimarães, do PMDB (também na terça-feira, dia 17). Ali foi derrotado o grupo minoritário que tem à frente o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e defende o rompimento com o governo. Cunha foi vaiado naquele encontro partidário.

Michel Temer, vice-presidente da República e presidente nacional do PMDB, ao contrário, foi categórico: o PMDB “não vai sair” do governo da presidente Dilma Rousseff. Foi claro: “2018 só em 2018”, disse. E defendeu Dilma Rousseff que, argumentou, faz “o possível e o impossível” para unir o país.

São acontecimentos importantes. Eles apontam para o fortalecimento do governo para resistir aos ataques que vem sofrendo, especialmente as investidas pelo impeachment.

O entendimento desta conjuntura exige que a análise leve em conta o conflito de classes real que ocorre na sociedade. Ele opõe os setores “produtivistas” envolvendo a esquerda, o PT e o PMDB (a coalizão produtivista entre os trabalhadores e a burguesia industrial sobretudo), ao rentismo especulativo e antidesenvolvimentista capitaneado pelo PSDB e apoiado descaradamente pela mídia hegemônica.

Nos últimos dois anos a coalizão desenvolvimentista sofreu uma cisão profunda. Quando, em 2012, a presidenta Dilma Rousseff decidiu enfrentar os juros extorsivos, a especulação rentista e o sistema financeiro, ela abriu a Caixa de Pandora da oposição neoliberal e direitista, que cresceu e foi às ruas sobretudo desde junho de 2013. A burguesia industrial balançou e a oposição cresceu ao ritmo alucinante da luta de classes que ganhou as ruas.

As vitórias no Congresso Nacional vislumbram a necessária recomposição daquela aliança pelo crescimento e para manter as mudanças que estão em curso no Brasil. Aliança para impedir a volta da direita neoliberal e o delírio rentista e especulativo que pretende impor ao Brasil e aos brasileiros.