Ganho salarial dos bancários pode ajudar a combater a crise

A vitória dos bancários na greve que terminou vitoriosa na semana passada não beneficia apenas aquela categoria de trabalhadores e poderá ter efeitos favoráveis contra a crise.

Segundo o Dieese serão injetados R$ 11,2 bilhões na economia, que é a soma dos benefícios alcançados pelos bancários: aumentos de 10% em salários e participação nos lucros (PLR) e 14% nos vales refeição e alimentação.

Esta é a demonstração prática e concreta dos benefícios da luta dos trabalhadores, principalmente no setor onde está o coração do rentismo que vampiriza a economia brasileira, o financeiro.

A categoria dos bancários é formada, no Brasil, por 508 mil trabalhadores. Ela sofreu severamente os golpes da reestruturação produtiva ocorrida no período de hegemonia neoliberal. Em 1990 tinha 732 mil profissionais; ao longo daquela década foi reduzida, pelas demissões, a quase metade: 393 mil trabalhadores em 1999. No período seguinte voltou a crescer, mas sem alcançar o número de 1990 – chegou aos 508 mil atuais, que representam 69,4% do que era há 25 anos.

A contrapartida dessa verdadeira erosão sofrida pela categoria foi o enorme fortalecimento dos bancos neste quarto de século em que a ganância financeira ditou a cartilha imposta à economia e ao país.

O Banco Central traz 175 nomes na lista do STR (Sistema de Transferência de Reservas, que é o mecanismo que faz a transferência de recursos entre as instituições financeiras). No portal da Febraban é possível saber que ela tem 118 bancos filiados.

Não é um número grande de bancos e instituições financeiras, que empregam aqueles 508 mil bancários. Aquele número fica imensamente menor quando se analisa os dados da concentração bancária. Apenas cinco bancos praticamente monopolizam o setor. Dois são públicos (Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal) e três são privados (os nacionais Itaú e Bradesco e o estrangeiro Santander). Juntos, ficam com 65% dos ativos, 66% do lucro líquido e têm 82% dos funcionários.

E, apesar da crise econômica internacional e seus reflexos no Brasil, aqueles bancos (em particular os privados) têm acumulado lucros cada vez maiores nos últimos anos. Como, por exemplo, foi divulgado na semana passada por apenas dois daqueles gigantes financeiros, o Bradesco e o Santander. Juntos, eles tiveram R$ 5,8 bilhões de lucro apenas até o terceiro trimestre deste ano.

Os banqueiros, é claro, não gostaram nem um pouco do resultado alcançado pelos bancários. Luiz Trabuco, presidente do Bradesco, por exemplo, saiu atirando assim que o acordo foi anunciado: viu nele uma ameaça aos lucros do setor financeiro.

Além de poder ajudar a enfrentar a crise econômica, o resultado obtido pelos bancários é um exemplo também da importância que a luta dos trabalhadores pode ter no esforço pela retomada do crescimento econômico e do desenvolvimento.

Em primeiro lugar porque força a repartição de recursos que, de outra forma, poderiam ser esterilizados em ganhos financeiros improdutivos, concentrados nas mãos de poucos privilegiados.

E, depois, porque reparte, na forma de salários, essa parte dos recursos que, postos em circulação, fortalecem o mercado interno e estimulam a economia.

Os benefícios não são assim apenas para aquela categoria mas para o Brasil como um todo.