As mentiras de Fernando Henrique Cardoso

Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República e ex-“príncipe dos sociólogos”, tem uma qualidade rara: é uma espécie de rei Midas ao contrário.

Ele se esforça por polir sua biografia no esforço vaidoso de figurar bem na história. Mas, quanto mais se empenha, mais opaca sua imagem fica! Ele, que se tornou “príncipe da privataria” depois das privatizações promovidas por seu governo, figura entre os piores presidentes da República (talvez o pior) na avaliação popular e tenta, a todo custo, desqualificar a imagem de seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva que, sem titulação acadêmica, ostenta a avaliação popular de melhor presidente da história do país.

Em seu mais recente rompante FHC teve a deselegância (cara-de-pau, melhor dito) de exigir a renúncia da presidenta Dilma Rousseff. Seria um gesto de “grandeza”, disse ele no início desta semana, pois seu governo seria, na opinião do expoente da direita neoliberal, “ilegítimo”. E pregou (claro!) a abreviação de seu mandato constitucional.

Neste ambiente em que a memória histórica tem sido abreviada (desde que a luta de classes voltou abertamente às ruas a partir de junho de 2013) muitas pessoas se esqueceram do que era a vida dos brasileiros há 13 anos, até o ano de 2002, e das mentiras, corrupção e fraudes que mantiveram os tucanos no poder entre 1995 e 2002.

Na eleição de 1998, FHC recebeu o que havia “comprado” antes, sua reeleição, mudança constitucional adotada depois de num dos piores casos de corrupção política envolvendo o presidente da República e parlamentares corruptos que receberam dinheiro para votar pela adoção da reeleição.

Mesmo assim a reeleição não foi fácil e FHC teve 53% dos votos. A campanha eleitoral assistiu a um dos maiores festivais de mentiras promovidos por um candidato à reeleição.

A maior delas foi a garantia dada aos eleitores por FHC (que dizia "ou eu ou o caos”!) de que o governo não mexeria no câmbio e manteria a taxa do dólar vigente durante praticamente todo seu primeiro mandato. Alcançado o objetivo da mentira, a reeleição de FHC, a máscara caiu rapidamente. O país soube, assombrado, que a manutenção da taxa do dólar (que foi de R$ 1,12 durante praticamente todo ano de 1998) havia custado quase todas as reservas externas que o Brasil acumulara, e o país estava agora de “pires na mão”.

Pior principalmente para empresas que, até então, confiaram no governo e contraíram dívidas em dólar.

A mentira de FHC revelou-se, afinal, e seu governo mexeu no câmbio. Abandonou o fixo e adotou o câmbio flutuante; o valor do dólar pulou, em poucas semanas, dos R$ 1,12 para R$ 2,11 em março de 1999, e chegou a R$ 3,82 em outubro de 2002.

De repente, cada US$ 1 mil de dívida das empresas passou para US$ 2.110,00, e para os insustentáveis US$ 3.820,00 no final do mandato do tucano que se pretende sabidão e campeão da ética e da moral.

E campeão da competência. E ninguém pode atribuir aquelas decisões econômicas de FHC à incompetência do presidente ou seus auxiliares.

É pior. Foram decisões que decorriam do programa neoliberal de FHC e das fidelidades de classe, nacionais e internacionais, que aquele programa pressupõe.

Os dois mandatos de FHC foram períodos nos quais a nata da especulação financeira controlou a presidência da República e impôs ao país o programa de privatizações, desmonte do Estado e ataques aos direitos sociais e políticos dos trabalhadores e do povo, e à soberania nacional.

Tudo isso precisa ser lembrado, entre os desmandos dos governos de FHC, para que se possa pôr em seu lugar as afirmações recentes do ex-presidente e atual líder golpista antidemocrático.

FHC tema cara-de-pau de propor que a sonhada (pela direita) renúncia da presidenta Dilma Rousseff seria um gesto de “grandeza”.

Este é outro aspecto da política da mentira, da qual ele já se demonstrou um verdadeiro campeão.