Vitória da direita em Israel é tragédia para o povo palestino

A vitória do partido de extrema-direita Likud (“Consolidação”) nas eleições desta terça-feira (17) em Israel foi uma surpresa amarga para os que enxergavam uma chance de remover o racista primeiro-ministro Benjamin Netanyahu do trono. Ao perder posições na reta final para a União Sionista, coligação entre o HaAvoda (“Trabalhista”) e o Hatnuah (“Movimento”), Netanyahu declarou abertamente que não aceitará o estabelecimento do Estado da Palestina, alegando que a “entrega de territórios” (ou seja, a desocupação dos territórios palestinos) abriria as portas para “ataques de islamitas radicais contra Israel”.

A vitória da direita israelense é mais uma tragédia para o já martirizado povo palestino.

A “segurança” fundamenta a retórica diante dos mais horrendos massacres do povo palestino em sua contínua história de genocídio, na colonização da Palestina pelos sionistas. Esta visão racista e opressora nascida na Europa, no impulso de dominação do Oriente Médio, investiu na religião para apresentar-se como profecia messiânica. Pior, Netanyahu angariou apoio para vencer as eleições na debandada da sociedade israelense, visivelmente intoxicada, para o extremismo, tornando fundamental o investimento na questão das colônias. O premiê teve recordes na construção de mais casas em verdadeiras cidades ilegais na Cisjordânia palestina, mesmo durante as fajutas negociações de paz, “mediadas” por seu maior aliado, patrocinador e cúmplice na matança dos palestinos, o imperialismo estadunidense.

A enfermidade da sociedade israelense não é uma conclusão apenas do Portal Vermelho, resoluto em sua solidariedade à causa palestina pela liberdade e pela paz. Inúmeras vozes críticas em Israel, como a de Gideon Levy, colunista de um dos principais diários locais, concluíam após o resultado eleitoral que “Netanyahu merece o povo israelense, e eles merecem Netanyahu.” Em entrevista ao Vermelho durante os 51 dias de bombardeios criminosos contra a Faixa de Gaza, em 2014, o colunista contou que tinha guarda-costas por receber ameaças de seus próprios leitores, ao criticar a chacina dos palestinos. “Algo está partido [em Israel], talvez sem chance de conserto,” escreveu, nesta quarta (18). Os ocupantes foram às urnas enquanto os ocupados esperavam por sua sentença – os quase cinco milhões de palestinos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia ocupadas não podem votar, obviamente. Esta encenação de democracia e liberdade em Israel, entretanto, assenta-se na opressão de um povo inteiro e, por isso mesmo, está fadada ao precipício.

Não nos enganemos: a vitória da União Sionista não seria a luz no fim do túnel. Além do nome, de fidelidade à colonização, o Partido Trabalhista e Tzipi Livni, à frente do novo Hatnuah, têm seus históricos no massacre contínuo dos palestinos. Livni foi chanceler durante a “operação Chumbo Fundido” (2008-2009), que matou 1.400 palestinos em 22 dias, e ministra da Justiça na “Margem Protetora” (julho e agosto de 2014), que matou 2.200 pessoas, na Faixa de Gaza. Em ambas, a porcentagem de civis assassinados era assombrosa, assim como a devastação do território sitiado há oito anos. Foram três grandes ofensivas em cinco anos, o que evidencia a sistematicidade das “operações militares” e do que a ONU condena como “punição coletiva” dos palestinos pelo regime sionista, que alega sua defesa contra a resistência armada.

A composição da coalizão de governo é a próxima fase na turbulência israelense. Com o Likud e a União Sionista em primeiro e segundo lugares, ambos enfrentarão o desafio e as negociatas para determinar a configuração do novo Parlamento. Em terceiro, uma alvissareira novidade, está a Lista Conjunta, composta por partidos árabes e o árabe-judeu Hadash (acrônimo de Frente Democrática pela Paz e a Igualdade). Mas em seguida vêm mais partidos de extrema-direita e ultraortodoxos que defenderão as colônias e a repressão dos palestinos a ferro e fogo.
Aos palestinos resta contar com a crescente solidariedade internacional e com a possibilidade de extinguir, finalmente, a impunidade das lideranças sionistas. Acuado, o governo israelense reage agressivamente à condenação mundial, punindo os palestinos pela deterioração da sua imagem, embora ainda conte com a cumplicidade basilar do imperialismo dos EUA.

Continua sendo um dever dos movimentos sociais solidários exigir o cumprimento de uma dívida histórica pela libertação do povo palestino e o estabelecimento do seu Estado independente e soberano, assim como a responsabilização por mais de um século de genocídio na Palestina.