Depois da eleição, segue a pressão conservadora

A reeleição da presidenta Dilma Rousseff foi uma vitória numericamente apertada, mas politicamente incontestável e plena de significados. Foi a vitória das forças democráticas e populares sobre a direita neoliberal e conservadora. Os derrotados passaram a semana movimentando-se para criar um clima de “terceiro turno”, com ações que variaram do desrespeito à vontade democrática do povo, no velho golpismo de sempre, ao patético.

Seus líderes mais credenciados, a partir dos candidatos derrotados a presidente e vice, de mãos dadas com penas e vozes alugadas na mídia, tentaram desqualificar a vitória de Dilma, lançaram diatribes, destilaram ódio, fomentaram a tese do “Brasil dividido” e chegaram ao despautério de questionar o resultado das urnas, pedindo uma “auditoria da apuração dos votos”.

Desde a proclamação dos resultados, iniciaram um jogo de pressões com a finalidade de paralisar e neutralizar a presidenta reeleita, e acrescentar dificuldades ao exercício do seu segundo mandato antes mesmo que comece.

Sua primeira decepção foi a atitude impávida da vitoriosa. Pensando grande, fez um apelo ao diálogo – não necessariamente com os partidos derrotados – mas com os segmentos da sociedade –, reafirmou a luta por mudanças e sinalizou a prioridade para a reforma política. Depois de uma série de entrevistas e reuniões com sua equipe mais próxima, foi tirar merecido descanso numa aprazível praia da Bahia, estado onde é imensa a sua popularidade e forte seu respaldo eleitoral.

A pressão mais importante sobre a presidenta reeleita concentrou-se sobre a designação do novo ministro da Fazenda e o anúncio da “nova” política macroeconômica. Na falta de outro conceito, a oposição e sua mídia, agindo como porta-vozes da oligarquia financeira, criaram o “ministro da Fazenda independente”. A tecla surrada em que batem é a nomeação de um titular para a pasta da economia com “autoridade própria” e que “seja capaz de atuar sem a interferência da presidenta”. O festival de estultices chegou ao ponto de pedirem que Dilma “deixe de ser a ministra da Fazenda”.

A pressão da oligarquia financeira e mesmo a tentativa de coação à presidenta se explica pelo posicionamento firme que Dilma adotou na campanha. Sem se descomprometer do combate à inflação e da defesa da estabilidade fiscal do país, Dilma deixou clara a sua posição de priorizar o emprego, a melhoria da renda do trabalhador e da vida das pessoas, a continuidade das políticas sociais e de uma estratégia de desenvolvimento nacional. “Não somos aqueles que só pensam nos banqueiros e nos juros. Somos aqueles que querem melhorar a vida de cada família”, ao passo que condenou as propostas de política econômica do adversário, que “planta inflação para colher juros”.

Dilma não cedeu. Disse que o ministro da Fazenda e eventuais ajustes na economia e nas finanças serão anunciados no momento certo.

No quadro de uma aliança heterogênea, em que são ponderáveis a força e a influência de partidos e lideranças centristas exercidas em nome de interesses pessoais e grupistas, não faltaram as pressões e até chantagens oriundas de partidos e lideranças que integram a coligação liderada por Dilma. Com motivações torpes e usando métodos reprováveis, esses setores agiram para infligir à presidenta uma derrota no parlamento no primeiro dia de sessões na Câmara após as eleições. Ao forçarem o veto aos conselhos populares, na verdade golpearam a democracia e revelaram sua faceta antidemocrática e elitista. As pressões se completam com a ameaça de eleger para a presidência da Câmara um político que sistematicamente sabota as relações de aliança entre o PMDB e o PT, e de pôr em votação açodadamente, no apagar das luzes do ano legislativo, projetos prejudiciais à gestão do governo.

As movimentações da primeira semana pós-eleitoral mostram que continua forte a pressão conservadora. É tempo de luta política, em que é cada vez mais necessário ao governo vitorioso manter a clareza de rumos, unir as forças democráticas e mobilizar o povo para enfrentar os desafios e realizar as mudanças que a nação reclama.