Derrotar a direita no segundo turno para o Brasil avançar

O presidente Luís Inácio Lula da Silva e as forças democráticas, patrióticas e avançadas reunidas na frente A Força do Povo superaram mais um obstáculo na corrida para conquistar mais quatro anos para o atual governo. A expressiva vitória de Lula, que alcançou – até a meia noite do domingo – 46 291 573 (48,65% do total dos votos válidos), contra os 39 564 399 de votos do tucano Geraldo Alckmin (41,58%) apontam para uma disputa renovada, nas próximas semanas, na qual as forças populares entram revigoradas pela votação recebida e que, por pouco, não garantiu a vitória já no primeiro turno. Os outros candidatos somados alcançaram 9 294 385 (9,76% do total).



O bom desempenho de Lula e da coligação A força do povo aponta para a possibilidade de derrotar o jogo sujo da direita que, nas últimas semanas, apelou para tudo, dentro e fora da lei, com a ajuda da grande mídia e de magistrados que deveriam ser neutros ante a disputa, tudo para salvar seu projeto de voltar, pelo voto, para a presidência da República.



A direita brasileira é expert em golpismo. A direita tem sido, nos últimos sessenta anos, o principal fator de desestabilização da política brasileira. A uma semana da eleição, direita apelou outra vez para a tática do jagunço, que usou desde maio de 2005 e, face à iminente impotência em derrotar Lula nas urnas, começou a preparar argumentos e situações para tentar ganhar no tapetão ou clamar pela ilegitimidade da eleição e do segundo mandato.



A direita brasileira repete-se a si própria em mais este episódio, e usa métodos conhecidos. Nunca é demais lembrar que desde a deposição de Getúlio Vargas, em 1945, a direita brasileira sempre se uniu em torno do objetivo de segurar o crescimento do país, conter o aprofundamento da democracia, e impedir a consolidação da soberania e da Independência do Brasil. Quando Vargas foi eleito para a presidência, em 1950, a UDN (União Democrática Nacional, partido da plutocracia financeira e antepassado dos atuais neoliberais) tentou impedir sua posse alegando que ele não havia obtido a maioria absoluta dos votos. O auge da campanha da direita foi o suicídio do presidente em agosto de 1954. Em 1955, entretanto, foi outra vez derrotada nas urnas, com a eleição de Juscelino Kubitschek para a presidência. A direita voltou a agitar a tese da maioria absoluta dos votos para impedir a posse e chegou mesmo a apelar para o golpe militar, pedido em editorial pelo jornal Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda.



A batalha que se trava em nossos dias é um desdobramento do mesmo combate entre a direita e as forças progressistas, democráticas e nacionalistas, em uma época histórica nova, onde a democracia se consolida e a consciência política do povo cresce e se configura em organizações partidárias e do movimento social que lutam pelo avanço democrático e social de nosso país.



Batalha que opõe, em trincheiras opostas, as mesmas forças sociais que se enfrentaram no passado.
De um lado, a direita neoliberal, conservadora e partidária do atraso, do autoritarismo e da subordinação do Brasil às potências imperialistas, hoje organizada em torno da candidatura tucana de Geraldo Alckmin.
De outro lado, as forças progressistas e avançadas que preconizam a construção de um Brasil novo, desenvolvido e soberano. E que se traduz em um forte conjunto de militantes progressistas e democráticos, que inclui o PT, o PCdoB e os demais partidos que apóiam a reeleição do presidente Lula.



Estas poucas semanas que nos separam do segundo round da eleição presidencial serão decisivas e pode-se esperar que, neste curto período de tempo, o jogo sujo da direita poderá crescer.



E vigilância e a mobilização precisam ser totais contra as tramóias da direita, contra seu hipócrita clamor pela ''moralidade'' – logo eles… -, este frágil biombo com que os conservadores querem esconder seu programa antipopular, antidemocrático e antinacional, programa que não podem confessar pois prevê o retorno de tudo aquilo que foi rejeitado pelos brasileiros na eleição de 2002, que levou Lula à presidência da República – o programa neoliberal de tão nefastas conseqüências para o país e para o povo brasileiro.



A necessária vigilância precisa crescer nas próximas semanas. Fortalecer a mobilização popular, ajudar o povo a compreender a natureza do embate travado no país e que não se esgota no momento da eleição nem no período imediatamente seguinte a ela, para garantir a lisura do pleito, o respeito à vontade que o eleitorado manifestar na urna, e combater as tentativas de deslegitimação do presidente Lula.



A tradição historicamente golpista da direita brasileira permite imaginar um combate sem tréguas, recheado das baixarias de sempre. A direita e os conservadores brasileiros já agiram assim no passado, tendo sido o principal fator da instabilidade da política brasileira nos últimos sessenta anos. E os sinais emitidos pelo ninho tucano pefelista, repercutidos pela mídia do grande capital (ela própria parte do sistema de poder conservador que procura manter seu mando sobre o país), indicam essa possibilidade. É o que demonstra a crise atual. Ela é uma tentativa de requentar a crise iniciada em maio de 2005, e tem dois objetivos alternativos: o primeiro é derrotar Lula, a esquerda e as forças avançadas, na eleição presidencial; se não conseguirem cumprir este propósito, como tudo indica que vai ocorrer, a alternativa para a direita será agitar, a partir de 2007, a tese de que a eleição teria sido ilegítima, cujo desdobramento poderá ser a busca da interrupção do mandato do presidente Lula.



Este é o roteiro histórico da direita, que ela repete este ano depois do fracasso de todas suas iniciativas tentadas desde o ano passado. Mas que se desenvolve em um cenário radicalmente diferente daquele existente entre as décadas de 1940 a 1960. Um forte indício desta realidade nova, em que a organização popular é mais forte, foi o manifesto ''Querem melar a eleição de Lula'', divulgado por mais de cinqüenta organizações do movimento social no último dia 20, e que indica o compromisso das principais lideranças do país em derrotar a direita e seu projeto neoliberal.



Um papel especial, nesse cenário, é aquele representado pelo Partido Comunista do Brasil, a partir de seu compromisso programático com a conquista da democracia, da melhoria das condições de vida dos trabalhadores e do povo brasileiro e da consolidação da soberania nacional. O PCdoB não abre mão de seu objetivo estratégico, a conquista do socialismo com feição brasileira. E compreende que a democracia é parte fundamental da estrada que levará o Brasil e os brasileiros a este rumo avançado. Objetivos em torno dos quais o Partido mobiliza setores importantes da classe operária, dos trabalhadores assalariados, dos setores progressistas e avançados, das camadas médias, dos intelectuais, dos empresários produtivos, empenhando-se para impedir que a direita exerça seu esforço golpista para interromper a marcha do processo político e histórico em curso, e m busca do desenvolvimento nacional, de uma política externa independente e soberana, do fortalecimento do Mercosul, que avance em políticas sociais que permitam a desconcentração de renda e a valorização do trabalho.



O roteiro da direita é golpista, e o alvo de sua ação são os avanços obtidos durante o primeiro mandato do governo Lula. É um que precisa ser barrado pelo mecanismo democrático do voto, reelegendo Lula. Este é o sentido da eleição de outubro, e também o significado do clamor da direita pela ''moralidade'' e pela ''ética''.