Dia 1º, a resposta aos golpistas

O encontro do bloco PSDB-PFL “Por um Brasil Decente”, nesta segunda-feira (25) em São Paulo, não foi um sucesso de público mas merece atenção pelo teor e pelo tom do discurso. Os 3 mil participantes (número dado pelos organizadores), entre eles a fina flor da velha e da nova direita, fizeram a um só tempo o velório não declarado das suas pretensões presidenciais em 2006 e a estréia do que será a oposição no provável segundo mandato de Lula.



O tom foi dado, mais uma vez, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A imprensa destacou a comparação com o demônio, mas esta pouco acrescenta ao debate, além de um plágio da tirada de Hugo Chávez em Nova York, cinco dias antes. O relevante está no verbo: “Nós temos que expulsá-lo daqui”, conclamou FHC, referindo-se ao presidente da República que nas entrelinhas de sua fala está a alguns dias da reeleição.



O senador Tasso Jereissati (CE), presidente do PSDB, explicitou melhor a idéia: “Estou torcendo para que o impeachment do Lula seja através do voto. Se não for, infelizmente, teremos um presidente sub judice, sob suspeitas”.



Não foi esta a posição do PSDB-PFL depois da derrota de 2002. O bloco direitista configurou-se imediatamente e fez oposição desde o início, intransigente, raivosa até, mas dentro dos limites da institucionalidade. Fiava-se na possibilidade de um fracasso do governo Lula que vacinasse o Brasil contra novas experiências à esquerda.



A tentação do golpismo aflorou com a crise do ano passado, mais exatamente em agosto: a ala direita da direita, puxada pelo PFL, advogou o impeachment já. No debate intradireita, porém, prevaleceu a outra tese, de “sangrar” Lula gota a gota, até expô-lo, exangue, no pelourinho de 1º de outubro. Pesou aí o fracasso das mobilizações do “Fora Lula!” naquele mês e o temor de transformar o presidente num mítico herói injustiçado.



Pois no encontro dos “decentes” do Clube Espéria o bloco conservador fez autocrítica. A seis dias da eleição, colocou na sua pauta os métodos extra-eleitorais. Tem razão o presidente da Câmara quando aponta a busca oposicionista de um “atalho” no “tapetão dos tribunais” e repassar, ainda uma vez — quanto mais, melhor — os numerosos exemplos do gênero ao longo da trajetória brasileira do século passado.



“Ninguém quer golpe, é voto na urna”, defendeu-se FHC no encontro dos “decentes”. Porém os fatos prevalecem sobre as palavras. E é fato que desde o dia 19 último está protocolado no Superior Tribunal Eleitoral uma ação, em nome dos presidentes do PSDB e do PFL, pedindo a cassação do registro da candidatura Lula e a proclamação da inelegibilidade do presidente.



Há porém uma diferença essencial entre os golpes institucionais da direita no passado e no presente: antes, as hostes do conservadorismo contavam com as Forças Armadas, eram estas que impunham de fato as soluções antipopulares. Assim foi em 1937, 1945, 1954, 1961, 1964 e 1969, para citar apenas os casos cruciais. Hoje, não há sinais de que essa velha história possa se repetir.



Na falta de quartéis em cujas portas possa bater, o bloco de direita volta-se para outras instituições em busca de legitimar-se. No próximo Congresso Nacional é altamente duvidoso que encontre abrigo, a julgar pelas projeções sobre sua composição. Encontrou aparentemente alguma guarida no presidente do TSE, que ao acatar seu pedido apressou-se a mencionar o caso Watergate (que, em totalmente outras circunstâncias, derrubou o presidente Richard Nixon em 1974).



A nova disposição belicosa da direita fornece um motivo suplementar, se motivos faltassem, para impulsionar a “onda Lula” nos dias que faltam para o 1º de outubro. Neste domingo, falarão os 125 milhões de cidadãos-eleitores, detentores da soberania popular, que na hierarquia democrática encontra-se acima e além de todos os Poderes da República. Os votos em Luiz Inácio Lula da Silva serão também a resposta do povo aos golpistas de hoje e sempre.