A França de Hollande adere à política imperialista dos EUA

A visita do presidente François Hollande, da França, aos Estados Unidos, revela o que já se desenhava na política interimperialista: a defesa da espionagem, das intervenções militares e da projeção hegemonista sobre o mundo. Seu Partido Socialista – engajado na social-democracia de políticas fiéis ao capitalismo e alijadas da solidariedade internacional anticolonialista – reflete os contornos do liberalismo ocidental com empenho no cenário internacional.

Hollande e Obama são parceiros na promoção da intervenção militar contra a Síria e nas acusações ao programa nuclear do Irã para justificar as sanções contra o país. Ambos se utilizam da retórica instrumentalizada e com grande espaço nas Nações Unidas sobre a “responsabilidade de proteger” civis nos conflitos armados, geralmente interpretada como um direito autoinvestido de intervir militarmente, quando interessar.

Foi assim no caso do Mali, por exemplo, quando a França violou o direito internacional e lançou a Operação Serval para garantir sua agenda neocolonial, sem o consentimento do Conselho de Segurança, ação em que contou com o apoio estadunidense.

Sobre a espionagem, Hollande não apenas abaixou a cabeça para a afirmação de Obama de um “direito” dos EUA de vigiar o mundo, mas também perdoou seu aliado pelas comunicações francesas coletadas. Ambos concordaram sobre quatro pontos explicados por Obama em uma coletiva de imprensa conjunta, na terça-feira (11), enfatizando a posição “lado a lado nos desafios principais sobre a segurança global” e o aprofundamento das relações comerciais.

O presidente francês colocou-se como “parceiro” na investida ilegal da espionagem mundial e chegou a reunir-se com empresas de tecnologia norte-americanas durante a sua visita. Não é à toa que Hollande é o primeiro presidente francês a fazer uma visita de Estado aos EUA desde 1996. Quase 20 anos de hiato e lá está, garantindo aos EUA o apoio incondicional e subserviente a uma agenda imperialista – em troca do apoio às suas próprias ambições, é claro.

Hollande era considerado um político “brando demais”, mas, aos 20 meses de presidência, enviou tropas ao Mali e à República Centro-Africana, além de manter a própria formação de combate desde que os EUA levantaram a ameaça de intervenção contra a Síria. Foi o único apoiante ativo que restou, depois de até mesmo a Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) ter se dado conta de que esta não era uma boa ideia, e de parlamentares do Reino Unido também terem frustrado as ambições do premiê conservador-liberal David Cameron.

Obama citou Alexis de Tocqueville, pensador francês de grande influência sobre o pensamento norte-americano acerca da liberdade e da política – ainda que de formas tergiversadas – para dizer: “Posicionarmo-nos juntos e usarmos a nossa liberdade para melhorar a vida não apenas dos nossos cidadãos, mas das pessoas em todo o mundo, é o que faz da França nosso aliado mais antigo e mais próximo”.

Como não podia deixar de ser, ao explicar sua afirmação, Obama ressalta: “Nossas equipes militares e de inteligência cooperam diariamente, mantendo as nossas nações seguras, lidando com crises desde a África até o Golfo Pérsico”. Este talvez seja o ponto principal e revelador de toda a visita.

O presidente Hollande foi aos Estados Unidos garantir sua fidelidade a Obama. Já bateu o recorde histórico como líder menos carismático da França desde o início da Quinta República, inaugurada na década de 1950.

Enquanto parte da mídia estadunidense preocupava-se com questões protocolares no suntuoso "jantar de Estado” organizado pelo casal Obama para receber um presidente sem primeira-dama, ativistas franceses protestavam à porta da Casa Branca pedindo a demissão de um chefe de Estado com menos de 20% de aprovação popular. Mas isso não o impediu de garantir, sem qualquer legitimidade, o apoio e o engajamento da França às investidas imperialistas.