Ruptura institucional histórica na América Latina

A 2ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), realizada em Cuba, terminou nesta quarta-feira (29) confirmando a existência de uma histórica ruptura institucional na região, antes avassalada pelo pan-americanismo inspirado na Doutrina Monroe e no famigerado Corolário Roosevelt.

O fundamento da subserviência dos países latino-americanos em relação aos EUA se desfaz diante da consolidação da integração da Nossa América, idealizada no passado por Simón Bolívar e José Martí e concretizada contemporaneamente graças à luta dos povos e à ação de líderes como Fidel Castro, Hugo Chávez, Lula e outros.

A Celac é o expoente da vitória da autodeterminação e da soberania dos povos da América Latina e Caribe. A presença dos mandatários de 33 países da região e a forte adesão destes à unidade latino-americana consagra a mudança da correlação de forças no continente, o que nos torna capazes de contribuir de maneira significativa para a transformação do cenário mundial.

A Doutrina Monroe, de 1823, e a doutrina que ficou conhecida como Corolário Roosevelt, do início do século 20, baseadas na ideia da “América para os americanos” (do norte), serviram como o principal apoio ideológico para a intervenção norte-americana nos assuntos internos de vários países da região. Pela intimidação em busca da hegemonia, o pan-americanismo estadunidense baseou seu modelo econômico no neocolonialismo e, para isso, financiou ditaduras, saqueou recursos e fez intervenções militares em quase todo o território latino-americano.

A América Latina luta para superar as heranças dessa política e agora possui um mecanismo consolidado de defesa contra quaisquer tentativas de regressão deste processo de transformação.
Os membros da Celac aprovaram nesta quarta-feira uma resolução por meio da qual declaram a região como “zona de paz”, o que implica também questionar a presença militar dos EUA, contrapor-se à presença britânica nas Malvinas, exigir a extinção das bases militares, a começar pela de Guantânamo, extinguir a Quarta Frota e fortalecer os diálogos de paz entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o governo colombiano.

Em contraposição ao modus operandi imperialista, os 33 membros da Celac assinaram, dentre outros documentos, o compromisso de “não intervir, direta ou indiretamente, nos assuntos internos de qualquer outro Estado e observar os princípios de soberania nacional, igualdade de direitos e a livre determinação dos povos”.

Sendo assim, a integração fortalece a visão de uma ordem internacional justa, baseada no direito e em uma cultura de paz que exclui o uso da força e os meios ilegítimos de defesa.

O avanço é histórico. Ainda mais por tratar-se de uma reunião que aconteceu na Cuba revolucionária, que é exemplo da abnegação e da vontade de nossos povos de alcançar sua plena independência. O presidente Raúl Castro conduziu com maestria esta cúpula que tem como principal característica a diversidade de seus integrantes. E para não deixar de lembrar suas palavras durante o discurso de abertura do evento, “apesar das inevitáveis diferenças, [na Celac] se fomenta um espírito maior de unidade na diversidade, o que deve ser a finalidade”.

Por fim, a América Latina se levanta para traçar seu próprio destino, mostrando ao mundo que, acima de tudo, a união e o respeito dos povos constituem um princípio fundamental para superar os inúmeros desafios e os obstáculos impostos.

Ainda há muito por fazer. A América Latina e o Caribe demandam uma melhor distribuição das riquezas e dos investimentos. A região precisa melhorar o acesso universal e gratuito à educação de qualidade, precisa erradicar o analfabetismo e seguir avançando na luta contra a fome, a pobreza e a desigualdade e incrementar seu desenvolvimento econômico. Mas agora, e com a ajuda dos governos progressistas, há mais força para combater as injustiças de um mundo que infelizmente ainda é regido por uma ordem internacional excludente.