Brasil de Lula, protagonista da cooperação Sul-Sul

A reunião do G20 no Rio de Janeiro no último fim de semana; a visita do Primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh – a primeira em 38 anos -; e a reunião dos chefes de Estado do IBAS, sigla da aliança entre Índia, Brasil e África do Sul, com a presença também do presidente sul-africano Thabo Mbeki, são fatos políticos das mais alta relevância política e estratégica. Em seu conjunto, demonstram dinamismo em bases contemporâneas das relações Sul-Sul – que com a derrota do socialismo e a ascensão do neoliberalismo no inicio da década de 90, as novas forças hegemônicas no mundo diziam ter liquidado.
 
Na reunião do G20, a emissão de uma declaração assinada por todas as coalizões dos países em desenvolvimento que atuam na OMC deu força e visibilidade a bandeiras que unem o mundo em desenvolvimento na atualidade; na essência, a luta por uma nova ordem mundial. A causa principal que os unem, é a luta contra as profundas assimetrias que se acumulam e se aprofundam na atual ordem internacional. Assimetrias derivadas de ditames que negam aos povos e países o direito ao desenvolvimento e à soberania. Assim, exigem uma Rodada de Doha para o desenvolvimento, e não um “repeteco” das anteriores Rodadas de negociações comerciais que apenas aprofundaram as distorções Norte-Sul e impuseram a agenda livre cambista da globalização neoliberal.
 
Trata-se de uma luta de fôlego, afinal as idéias dominantes no mundo de hoje não são as idéias favoráveis ao desenvolvimento das nações da chamada periferia do capitalismo. Não obstante é uma luta justa e necessária, ainda que de resistência, sobretudo numa quadra onde os países ricos buscam liquidar qualquer possibilidade de uma Rodada de Comércio para o desenvolvimento, visando prolongar no tempo a atual ordem econômica internacional que lhes é absolutamente favorável.
 
Já a aliança política e estratégica entre  três grandes paises gigantes do Sul, no âmbito do IBAS, é outro dado relevante da conjuntura internacional, também expressão, como foi a reunião do G20, da oposição ao mundo unipolar vigente na atual ordem internacional. 
 
Proposta ainda em 2003 pelo presidente sul-africano Thabo Mbeki, na posse do presidente Lula – conforme depoimento do próprio -, expressa, conforme palavras do presidente brasileiro, que “a potencialidade das relações entre África do Sul, Índia e Brasil, é de uma grandeza incomensurável e nós ainda não a descobrimos porque durante décadas e décadas estivemos voltados para uma relação muito forte com os países do Norte e deixamos num segundo plano, eu diria, até quase no esquecimento, as relações Sul/Sul”. Afinal, diz Lula, “nós temos uma política de complementaridade que ainda não foi exercitada”. Essa estratégica relação se expressa, por exemplo, no comercio trilateral. No caso da Índia e da África do Sul, 87% das vendas do Brasil são de produtos manufaturados – sendo que nosso principal item de exportação para a Índia são aviões e, para a África do Sul, automóveis.
 
O Brasil ensaia outros movimentos no mesmo sentido. Após a Primeira Reunião de Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da América do Sul e dos Países Árabes, no ano passado, ainda no final deste ano, na Nigéria, haverá a primeira cúpula entre países da América do Sul e da África. Segundo Lula, esses movimentos, “são passos fundamentais na superação das barreiras históricas, geográficas, culturais e mentais que sempre nos fizeram olhar mais para o Norte do que para o Sul”.
 
Ainda assim, a parcela neoliberal da burguesia brasileira que sente saudade dos tempos de vinculação quase que automática ao projeto dos países ricos – hoje aglutinada em torno da candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) – insiste em não reconhecer esses avanços e propõe retrocessos em nossa política externa. Tudo indica, no entanto, a julgar pelo apoio do povo brasileiro à reeleição do Presidente Lula, que esse caminho, de subserviência em relação às potências capitalistas e de arrogância com países em desenvolvimento já é parte de um passado, que nosso povo não quer de volta.