Acordo entre Irã e G5+1 é um passo inicial positivo

O acordo entre o Irã e o Grupo 5+1 – membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas mais a Alemanha – anunciado neste domingo (24) tem causado reações diversas, mas predominantemente positivas. Depois de tantos anos de construção midiática de um Irã ameaçador e radical, chegou o momento de noticiar sobre um governo persa diplomático e conciliador. Chegou o momento da outra versão.

A República Islâmica do Irã tem se dedicado há décadas a negociações infindáveis e se submetido a inspeções regulares da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), da qual é membro desde 1959.

Entretanto, isso não eximiu o país das sanções devastadoras introduzidas pelos Estados Unidos em 1979, quando a Revolução Islâmica derrubou um regime monárquico autocrático, governado pelo xá Mohammed Reza Pahlavi, cuja família era historicamente apoiada pelos estadunidenses. Uma revolução popular e nacionalista, liderada pelos xiitas, passou a ser contada pela mídia ocidental como o agouro de uma era de extremos.

Depois dos Estados Unidos, que renovam e expandem as sanções impostas ao Irã regularmente, a Organização das Nações Unidas (ONU) e a União Europeia (UE) também entraram no jogo. Estas medidas de coerção visam a punição dos persas através da sua indústria petrolífera e do sistema financeiro, por exemplo, com o congelamento dos capitais persas no exterior.

O motivo: um programa nuclear sobre o qual um temor paranoico foi assentado na ameaça de “terrorismo” e de “fundamentalismo” religioso, construído cuidadosa e paulatinamente pela mídia ocidental, sobretudo a estadunidense. Neste sentido, ficam sem eco os diversos apelos dos persas pela diplomacia, e sua reivindicação por respeito à soberania é transformada em esbravejo de um regime radical que, supostamente nas entrelinhas, afirmaria um direito à possessão de armas nucleares.

Além de membro da AIEA, o Irã é signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), do qual países também vistos como ameaça pelos persas se esquivam. Israel não assinou o TNP (nem ratificou outros tratados contra armas de destruição em massa, para que conste), enquanto a França (que tomou temporariamente as rédeas da retórica agressiva do Ocidente) é signatária, mas também declarada “potência nuclear”, ou seja, detentora deste tipo de arsenal.

Mais uma vez, um sistema e um regime internacional de coerções hipócritas se desvelam. Ainda assim, o Irã intensificou esforços pela diplomacia desde a eleição do presidente mais “moderado”, Hassan Rohani. Os resultados são positivos, sem dúvida: enquanto reafirmam seus direitos soberanos ao desenvolvimento de um programa nuclear de fins civis (sobretudo para a energia e para pesquisas médicas), os persas sentam-se à mesa de negociações com as potências do Conselho de Segurança, Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China, acompanhadas pela Alemanha.

Depois de diversas rodadas de negociações (e de outro acordo com AIEA), um consenso, ainda que a duras penas, foi alcançado. Um concerto temporário – de seis meses, assentado na troca do alívio das sanções pela redução do enriquecimento de urânio persa e maior acesso dos inspetores da agência nuclear às instalações nucleares – oferece um “início de bom caminho” a seguir, como disse o próprio líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei.

A ver se o belicoso de plantão, desta vez representado quase isoladamente por Israel, visivelmente excluído, em brados agressores, permitirá a passagem da diplomacia.