ONU: Assembleia Geral na contramão dos interesses imperialistas 

Encerrou-se nesta terça-feira (1º) a jornada de debates de alto nível do 68º período da Assembleia Geral das Nações Unidas. Desde o discurso inaugural, proferido pela presidenta Dilma Rousseff, inúmeros líderes mundiais fizeram críticas contundentes à política imperialista e de agressão dos Estados Unidos, com questionamentos estendidos ao seu aliado por excelência no Oriente Médio, o Estado sionista de Israel.

Os debates gerais evidenciam as mudanças geopolíticas fundamentais no mundo, em âmbitos regionais e devido a fatores como a ascensão da China, da Rússia, do Brasil e de outras potências e a coordenação entre governos progressistas e soberanos, como na América Latina.

O discurso de Dilma centrou-se na condenação do programa de espionagem dos EUA (que afetou diretamente o governo federal e os cidadãos brasileiros, em clara violação da soberania nacional) e na crítica à retórica agressora contra a Síria. A presidenta falou também sobre a falta de uma solução definitiva ao conflito israelense-palestino, que se arrasta há 65 anos, com a influência direta dos sucessivos governos norte-americanos.

Da mesma forma, líderes regionais agregaram denúncias às questões específicas da América Latina e da política histórica dos Estados Unidos, de ingerência e investimento na presença militar imperialista. O presidente da Bolívia, Evo Morales, em seu pronunciamento, chegou a sugerir a criação de um tribunal dos povos para o julgamento do presidente estadunidense, Barack Obama, por crimes contra a humanidade.

Mais uma vez, ficou patente a consolidação das posturas autônomas e de críticas cada vez mais contundentes à projeção dominadora dos Estados Unidos, com a proteção a regimes proto-imperialistas em regiões estratégicas, como é o caso de Israel no Oriente Médio. Neste sentido, o novo governo do Irã, liderado pelo presidente Hassan Rohani, dá contornos mais favoráveis à causa diplomática e soberana, com a afirmação da opção pela política e pela paz em detrimento da ameaça de agressão reiterada pelos estadunidenses e israelenses.

Entre questões importantes de avanço estiveram também os debates sobre a reformulação da agenda de desenvolvimento global sustentável, com ênfase especial nos direitos sociais e na solidariedade internacional, assim como na efetivação de mecanismos de verificação do cumprimento dos direitos humanos.

Além disso, bandeira cara aos países emergentes e às regiões menos representadas no sistema das Nações Unidas, a reafirmação da urgência de uma reforma no Conselho de Segurança foi um ponto crucial nos discursos.

Reflexo de um cenário ultrapassado, o Conselho de Segurança ainda é formado pelos EUA, França, Reino Unido, China e Rússia como membros permanentes, e dotado de poderes de decisão que incluem o uso da força militar, embora seja o maior exemplo no sistema internacional de um déficit de representação global.

O desarmamento nuclear também foi abordado pelos líderes em seus discursos, já que se mantém na agenda internacional como uma prioridade extrema, na busca por um mundo mais justo, seguro e livre das ameaças coercivas, de potencial catastrófico para a humanidade.

Na primeira reunião organizada na Assembleia Geral sobre o tema, o chanceler cubano Bruno Rodríguez, representante da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos, afirmou a postura da organização pela abolição urgente desses armamentos, para que sejam eliminados também das formulações doutrinárias da política externa dos EUA.

Na contramão dessa tendência multilateralista e de paz, o discurso de Obama foi marcado por reafirmações imperialistas do papel que os Estados Unidos arrogam-se para o policiamento do mundo e a imposição de modelos de governo ou regimes que lhes convenham, menos por questões ideológicas do que pelo empenho desenfreado de manutenção de uma hegemonia agressiva e belicosa.

As evidências disso, no discurso de Obama, foram a reafirmação de um suposto direito ao uso da força (em intervenções militares política e economicamente motivadas), e a defesa dos seus programas de “vigilância” como justificativa para a espionagem realizada por suas agências de inteligência em todo o globo.

Da América Latina, entretanto, vieram condenações incisivas contra os programas de espionagem, a exigência do fim do bloqueio criminoso a Cuba, o apoio a reivindicações anticolonialistas, como o caso argentino em relação às Ilhas Malvinas (até hoje ocupadas pelo Reino Unido), entre outras questões de afirmação soberana.

O posicionamento crítico e a busca por alternativas nas relações internacionais ficaram evidentes, assim como a configuração de um sistema verdadeiramente multilateral para o avanço de um cenário de cooperação, respeito à soberania, afirmação dos direitos humanos (sociais, econômicos, civis e políticos), em um afastamento definitivo do sistema unilateral e imperialista que os Estados Unidos tentam institucionalizar.