Dilma reage duramente à espionagem dos EUA

A decisão da presidenta Dilma Rousseff, de responder em seu tradicional discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU, em 23 de setembro, à ofensa que significou a espionagem dela própria e de seus ministros, corresponde à gravidade daquela violação. E também à velha e reconhecida sabedoria do povo brasileiro: ofensa pública deve ser tratada publicamente. E o cenário da Assembleia Geral da ONU, ela própria também espionada pelos arapongas de Washington, é adequado para expor ao mundo a vileza do comportamento arbitrário do governo dos EUA.

A espionagem contra a presidenta brasileira e seus auxiliares é uma violação inaceitável da soberania brasileira e expõe a arrogância dos EUA em suas relações externas. Atribuindo-se o papel de “polícia do mundo”, espionaram amplamente as nações, mesmo aquelas com as quais mantêm relações amistosas, com o pretexto mentiroso de “combate ao terrorismo”.

Daí o acerto da escolha de Dilma – transgressão de tamanha gravidade na esfera internacional deve ser tratada no âmbito maior desta esfera, que é constituído, apesar dos pesares, pela ONU.

A espionagem, da qual já se suspeitava, foi revelada pelo programa “Fantástico”, da Rede Globo, no domingo (1º), com base em documentos tornados públicos pelo ex-agente da CIA Edward Snowden.

Questionado sobre as evidências dessa vilania, o governo dos EUA respondeu com evasivas às exigências apresentadas. E justificou-se com a desculpa mentirosa do combate ao terrorismo.

A reação brasileira teve início assim que as notícias foram divulgadas no domingo, e se deu através dos poderes Executivo e Legislativo. O Senado convocou, por iniciativa da senadora comunista Vanessa Grazziottin (AM), uma CPI da Espionagem, que começará nesta terça-feira (3) para apurar a grave violação da privacidade da presidenta e, sobretudo, da soberania brasileira. “Precisamos também analisar a capacidade do Brasil de se defender diante dessas ações”, disse a senadora.

"Estamos em situação de emergência", disse Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência; a presidenta convocou vários ministros para duas reuniões de emergência nesta segunda-feira (2), para definir a reação de seu governo. E o chanceler Luiz Alberto Figueiredo, presença cativa nos dois encontros, estreou no cargo com a mais grave crise entre as duas nações dos últimos tempos; orientado por Dilma, ele convocou o embaixador dos EUA, Thomas Shannon, para exigir explicações numa conversa que não deve ter sido fácil devido às frequentes mentiras usadas pelo governo de Barack Obama para justificar sua ação ignóbil.

Chegou-se mesmo a falar em cancelamento da visita de Dilma Rousseff aos EUA, decisão que seria um golpe para a diplomacia dos EUA, e hipótese que ainda não foi deixada de lado ante ao que foi, como disse o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, "uma ofensa clara à soberania brasileira, uma situação que evidentemente ensejará medidas importantes que o governo brasileiro tenha que tomar".

A deputada comunista Luciana Santos, vice-presidente nacional do PCdoB, foi além de considerar a espionagem como “uma afronta à soberania nacional”. Segundo ela, “o caráter da construção do atual gigantesco aparato de espionagem pelo governo estadunidense não está relacionado ao ataque terrorista de 11 de setembro de 2001”, mas é “diretamente ligado à política externa do país com a maior máquina de guerra jamais vista na história da humanidade: os Estados Unidos da América”.

A deputada comunista lembrou que o Brasil não é o mesmo país submisso de décadas passadas, como no período da ditadura militar ou de governos neoliberais como o de Fernando Henrique Cardoso. O Brasil mudou, disse, e a velha postura deixou de existir desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o governo. Aqui, afirmou com razão, “trata-se de defender uma das questões mais caras para qualquer nação: sua soberania e sua autonomia”. “Nenhuma ingerência deve ser tolerada. Quem manda no Brasil são os brasileiros!”

O tom duro da resposta de Dilma corresponde à dignidade e à soberania do Brasil. O governo dos EUA não deve apenas atender aos necessários pedidos de explicações ao governo brasileiro. E não basta apenas desculpar-se,mas deve também demonstrar, de forma clara e transparente, o abandono destes métodos de impor sua vontade e seus interesses. Esta é uma exigência feita por uma nação independente que não transige com sua soberania, e denuncia ao mundo a ação arrogante e inaceitável do governo dos EUA.