O governo que vem e o PIB

A oposição recebeu com um sorriso de escárnio a notícia do IBGE, de que o Produto Interno Bruto brasileiro cresceu apenas 0,5% no segundo trimestre deste ano. O candidato do bloco PSDB-PFL, Geraldo Alckmin, aproveitou para relançar sua proposta ortodoxa de contenção das contas públicas.



Dificilmente os 0,5% do PIB trimestral terão alguma influência nos votos de daqui a 25 dias. O eleitor está atento a outros números — salário, emprego, renda, cesta básica. São cálculos da mais cartesiana racionalidade, ainda que horrorizem o articulista Fernando Henrique Cardoso, no seu texto de domingo no Estado de S. Paulo. São estes números que explicam a preferência pela reeleição do presidente, e até a sua incidência sobretudo na base da pirâmide social brasileira.



Contudo, há bons motivos para os defensores do projeto encarnado pelo governo Lula se debrucem sobre os números do PIB, não só os do segundo trimestre, mas de toda a série histórica. Eles mostram que, nos três anos e meio de governo Lula que já tiveram seu PIB medido pelo IBGE, a média anual foi 2,84%. Ainda que se verifique o prognóstico presidencial de 4% no acumulado do ano, terão sido, em média, 2,93%.



São cifras nada espetaculares. É certo que nos oito anos dos governos FHC esta média ficou em 2,23% (2,57% na primeira gestão, 2,10% na segunda). E que os índices mediocres se sucedem desde a crise da dívida externa nos anos 1980, que inauguraram as chamadas décadas perdidas. Mas foi justamente para superar esse longo ciclo de quase estagnação que o país elegeu Lula em 2002.



O Planalto argumenta que assumiu em meio a uma grave crise, teve de tomar medidas duras para colocar a casa em ordem e agora sim, estão dadas as condições para retomar o desenvolvimento.



O programa da reeleição para 2007-2010, lançado há uma semana, de fato assume compromissos desenvolvimentistas mais firmes. Admite que é preciso “um crescimento mais acelerado da economia — bem acima dos níveis atuais”. Propõe uma taxa de investimento de 25%, e “aprofundar a redução da taxa de juros, aproximando-a daquela praticada nos países em desenvolvimento”, da ordem de 3% a 4% reais, assim como metas de política industrial, energia e infra-estrutura.



Não é um rompimento com a orientação do primeiro governo Lula. Nem encerra a polêmica que existiu na base de apoio deste, sobre a existência de um “hibridismo” que combinava elementos de inovação com outros de conservação da ortodoxial neoliberal anterior. É porém uma sinalização de avanço. Atiça as esperanças de que, num provável segundo mandato de Lula, o país recupere os ritmos de crescimento que teve entre as décadas de 30 e 80, desta vez com outro viés social, de desconcentração de renda e combate à pobreza.