A luta do Irã pela soberania e as dificuldades do imperialismo

A crise iniciada pelas pressões estadunidenses e européias para que o Irã desista de seu programa de enriquecimento de urânio entrou em uma etapa decisiva desde 31 de agosto, quando o governo de Teerã deixou de cumprir o prazo dato pelo Conselho de Segurança da ONU e manifestou a decisão de prosseguir com a pesquisa.


Esta é uma crise que se arrasta desde dezembro de 2002 quando um canal de televisão dos EUA divulgou fotos feitas por satélite de duas instalações nucleares iranianas que eram desconhecidas, Arak e Natanz.
O governo iraniano demonstrou, já naquela ocasião, a atitude que vem mantendo: quer negociar, mas não abre mão de seu direito soberano à pesquisa científica.


Em 2005 o país anunciou que prosseguiria com a pesquisa para o enriquecimento de urânio na usina de Isfahan e, em setembro daquele, o presidente Mahmud Ahmadinejad reafirmou, na ONU, o “direito inalienável” ao controles do ciclo combustível nuclear.


Desde então, as pressões do imperialismo; elas se tornaram mais intensas depois de janeiro de 2006, quando o governo iraniano retirou os lacres que a AIEA havia colocado em três instalações nucleares, para continuar a pesquisa. E ficaram ainda piores desde abril, quando o Irã anunciou ter enriquecido urânio ao nível de 4,8%.
O desfecho da crise, por enquanto, são as exigências do Conselho de Segurança da ONU para o encerramento da pesquisa nuclear iraniana, que em julho havia dado prazo de um mês, encerrado em 31 de agosto, para que aquelas imposições fossem acatadas, sob pena do Irã sofrer sanções políticas e econômicas determinadas pela ONU.


Esta é uma crise ilustrativa das dificuldades acumuladas pelo imperialismo estadunidense. Em primeiro lugar, a capacidade militar iraniana não é pequena, principalmente porque o país detém tecnologia para construir mísseis capazes de alcançar capitais européias. Além disso, é o quarto maior exportador de petróleo, situação que lhe dá grande margem de manobra na economia.


Além disso, o governo de George Bush não conta com a unidade do Conselho de Segurança da ONU. A Rússia e a China, dois membros permanentes daquele organismo, têm sistematicamente recusado a referendar as agressivas  posições estadunidenses. O chanceler russo, Serguei Lavrov deixou essa posição clara em 1o. de setembro quando, reagindo às pressões dos EUA pela imposição de medidas duras contra o Irã, declarou que “levamos em conta a experiência do passado para solução da questão nuclear com o Irã e não podemos nos aliar a ultimatos, os quais sempre levam a um beco sem saída”.


Num ambiente em que a União Européia também advoga o diálogo e a negociação, contra o uso da força, a recordação do passado feita por Lavrov tem um endereço certo: a ação dos EUA no Oriente Médio, desde a agressão contra o Afeganistão em 2001, depois contra o Iraque, e, finalmente, contra os palestinos e o Líbano, onde o exército de Israel foi o instrumento da agressiva política norte-americana.


Há países no Conselho de Segurança muito “enraivecidos com o modo como os EUA trataram a crise do Líbano”, e eles poderão “dar cobertura política para China e Rússia se oporem a sanções mais duras contra o Irã”, reconheceu a jornalista Helene Cooper, em artigo publicado no influente jornal The New York Times.


Há um princípio em jogo nesta crise, o mesmo princípio cuja disputa se acentuou desde a emergência dos EUA como a única superpotência: a defesa da soberania e da independência das nações. E o unilateralismo estadunidense, para impor seus interesses ao mundo,  parece ter encontrado agora um adversário com maior capacidade de defender sua autonomia. É um quadro em movimento, com desdobramentos ameaçadores para a paz mundial, em conseqüência da insânia guerreira, no qual o imperialismo enfrenta maiores dificuldades para suas imposições.