Por que Dilma perde pontos na pesquisa?

Faltam ainda 16 meses para a eleição presidencial do ano que vem. Mas a pesquisa divulgada neste final de semana pela Folha de S. Paulo é saudada pelos comentaristas e políticos tucanos como a esperada virada do jogo, que embute a promessa – forçada – do retorno conservador e neoliberal ao Palácio do Planalto.

Tamanha sofreguidão provocada pelo resultado da pesquisa revela, apenas, o apego tucano-conservador a qualquer notícia que lhe aqueça a alma – mesmo que seja esta que, a rigor, não traz nada que possa merecer a aprovação ao PSDB e seus aliados.

Os números revelam uma queda de oito pontos na aprovação do governo – caiu de 65% em março para 57% agora. Mesmo assim, se a eleição fosse hoje, Dilma venceria no primeiro turno, com 51% dos votos, superando de longe a soma de votos de seus adversários: Marina Silva teria 16%; o tucano Aécio Neves ficaria com 14%; o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, alcançaria 6% dos votos. Somados, os três principais concorrentes de Dilma teriam 36% dos votos. Isto é, ainda faltaria a eles 15 pontos percentuais para alcançar a presidenta.

Não se trata, pode-se ver, de um resultado para ser comemorado pela oposição, mas sim mais um desenho – oscilante, é claro – do favoritismo de Dilma Rousseff. E, bem vistos os números, eles revelam o caminho árido que a oposição conservadora terá que seguir para não fazer feio na eleição de 2014. Dilma exibe uma confortável, e inédita, aprovação de 57% depois de 30 meses (2,5 anos) de governo. Trata-se de um feito considerável quando se leva em conta que Fernando Henrique Cardoso tinha 39% nos primeiros 2,5 anos de seu primeiro mandato, caiu para 13% em setembro de 1999 e terminou o governo com apenas 26% de aprovação popular. Lula teve trajetória mais feliz. Teve 36% de aprovação nos 2,5 anos iniciais de seu governo, caiu um pouco mais, para 28%, em dezembro de 2005, e retomou a rota ascendente desde então, entregando o bastão a Dilma, no início de 2011, com a marca, inédita na história republicana, de 83% de aprovação popular.

Uma leitura superficial do resultado da pesquisa leva a torcida midiático-tucana a enxergar a inflexão registrada pelo Instituto Datafolha como um ponto de viragem fatal na popularidade de Dilma Rousseff. E deixa em segundo plano a realidade descrita pela pesquisa, e que reaparece no cenário: a dupla polarização já vivida pelo país nas eleições recentes, nas quais o tucanato foi derrotado. Um primeiro aspecto indica uma perda maior da aprovação de Dilma na região Sudeste (onde o PSDB ainda tem força eleitoral), e uma manutenção do brilho do governo no Nordeste. Mas, mesmo assim, indica uma aprovação em todas as regiões: foram 51% a favor de Dilma no Sudeste; 56% na região Sul; 58% nas regiões Norte e Centro-Oeste, e 64% no Nordeste. Se a polarização for olhada por faixa de renda, repete-se a mesma realidade com que o país se acostumou desde a eleição de 2006: na faixa mais baixa, com renda familiar inferior a cinco salários mínimos, Dilma é aprovada por 58% dos entrevistados; continua bem na faixa seguinte, entre cinco e dez salários mínimos, onde teve 50% de aprovação; e cai entre os mais ricos, com renda superior a dez salários mínimos, onde a aprovação, embora alta, caiu para 43%.

A popularidade da presidenta caiu pela primeira vez desde o início de seu mandato. Ela pode indicar uma reação às dificuldades que o governo enfrenta neste momento – o crescimento lento do PIB, sobretudo. E também à forte exploração, feita pela oposição, desta conjuntura. É uma interpretação possível, embora sem a dramaticidade interesseira da oposição midiático-conservadora, pois a pesquisa registra um leve temor com a inflação (51% dizem que ela vai aumentar) e com o desemprego (36% apostam em seu aumento). Aécio Neves apressou-se em comemorar a pesquisa como o registro de uma "crescente fragilização do governo em razão das várias decisões equivocadas, em especial na economia".

Mas é uma avaliação frágil, que mal esconde a torcida por uma explosão inflacionária que faria ruir o governo Dilma e o projeto de mudanças iniciado desde a eleição de Lula, em 2002. Mas não passa disso – de torcida pelo quanto pior melhor.

Dilma Rousseff foi eleita em 2010 para aprofundar as mudanças iniciadas por Lula. E não pode afastar-se desse rumo, embora as dificuldades a enfrentar sejam grandes. Há um conjunto de mudanças que precisam ocorrer para consolidar o novo estágio de desenvolvimento alcançado pelo país. Muita coisa já foi feita, mas é preciso mais.

Apenas um exemplo, para ficar somente nos termos apresentados pela pesquisa ora divulgada: o combate à inflação exige uma saída para a frente, exige o fortalecimento do investimento para que a produção cresça, fortaleça o emprego e os salários, e aumente a capacidade de oferecer os bens de consumo necessários à vida. Exatamente o contrário do que pretende a oposição neoliberal, cujo combate à inflação implica recessão, desemprego e juros altos.

Pesquisas de opinião realizadas em épocas tão distantes das eleições retratam uma situação mutável mas nem sempre determinante. No caso da presidenta Dilma Rousseff, elas servem apenas para acalentar os sonhos conservadores da mídia e da oposição neoliberal. Não se trata de um ponto de mutação, mas indica a necessidade de ajuste da política governamental para manter o alto grau de aprovação popular.