Volks, a corta-empregos, planeja fechar sua 1ª fábrica

A Volkswagen do Brasil chamou dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, nesta segunda-feira (21) para avisar que pode fechar a sua fábrica em São Bernardo do Campo. A ameaça faz parte de um cabo de guerra que vem desde maio, entre a empresa, que pretende demitir, e os operários, que defendem seus postos de trabalho. Este já produziu uma articulação metalúrgica em escala nacional e até mundial, passeatas e paralizações.



A fábrica da Volks em São Bernardo, à margem da Via Anchieta, ocupa um lugar na história da industrialização e do movimento operário no Brasil. Inaugurada há 47 anos, com direito a visita do então presidente Juscelino, cresceu montando o fusca e no fim dos anos 70 chegou a ter 45 mil trabalhadores. Foi quando entrou na grande onda de greves sob a ditadura, em 16 de maio de 1978, quatro dias após a pioneira Scania, de Gilson Menezes.



A multinacional alemã, que já colaborou com Adolf Hitler e com os torturadores da Operação Bandeirantes, não se interessa por história. Seu negócio é lucro. Para lucrar sempre mais, tanto contrata como demite, subcontrata, terceiriza, precariza.
Hoje esse projeto monomaníaco inclui um “facão” (expressiva gíria operária que designa as demissões em massa) globalizado, nas 43 unidades fabris da Volks em todo o planeta, e, a julgar pelo comunicado da empresa, o fechamento da unidade de São Bernardo, atualmente reduzida a 12,4 mil trabalhadores. “A Volks resolveu aumentar seus lucros arrancando o couro da peãozada”, resume o presidente dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo.



A mesma busca do lucro, motor do capitalismo, produz porém tendências contraditórias, motivadas pelos imperativos da produção e também pelos da luta de classes. Na segunda metade do século passado, quando se implantou a indústria automobilística brasileira, as multinacionais do setor apostaram na verticalização e na concentração produtiva, em especial no ABC Paulista. Daí brotaram enormes lucros, mas também um movimento operário combativo e expressivo… e o processo político-social que levou Lula, o metalúrgico, à Presidência da República.



Já na quadra final do século, com o mesmo objetivo, as empresas passaram à desconcentração (geográfica) e à horizontalização produtiva. A Volks, entre muitos outros exemplos, além da unidade de São Bernardo criou as de Taubaté e São Carlos, ambas no interior paulista, São José dos Pinhais (PR) e Resende (RJ).



O motor é sempre o lucro, mas o lucro do capital, como mostrou Karl Marx e antes dele Adam Smith, só pode vir da contratação da força-de-trabalho alheia. E com esta se impõe, necessariamente, a contradição e a luta entre o capital e o trabalho. Ao espalhar o processo produtivo por dezenas de unidades próprias, e mais centenas de empresas-satélite e fornecedoras de autopeças, as montadoras espalharam junto o operariado, sua organização e sua luta.



Assim tem sido a sina e a saga da classe dos que vendem sua força-de-trabalho para produzir o lucro do capital. Ela está sempre a ser destruida… e reconstruida: pelos desígnios do capital, pelas mudanças no processo produtivo, pelas flutuações e crises cíclicas do sistema, pela ditadura da fábrica e a perseguição política. O capitalismo não gosta dela mas não vive sem ela, porque vive dela. Neste processo, ela se forja enquanto classe, com a sua consciência, a sua organização, o seu projeto político-social, que reclama a superação do capitalismo e um novo sistema, onde a produção social das riquezas se liberte das amarras da propriedade capitalista.