Greve escancara face autoritária de Alckmin

A greve dos metroviários ocorrida na terça-feira, dia 15, tirou do esconderijo um político que os marqueteiros do PSDB queriam mantê-lo oculto até o final das eleições. Com a greve, o verdadeiro Geraldo Alckmin não agüentou e veio à tona. O tucano tirou a fantasia do ''Geraldo'' cordato, social-democrata, que no debate da Bandeirantes disse ser defensor da reforma agrária, e o Geraldo Alckmin autoritário se insurgiu por inteiro, clamando aos céus e à Justiça: punam esses metroviários que realizaram essa “greve absurda.”



Já a reação de José Serra, bem ilustra a correta avaliação de que o PSDB se configura na moderna direita brasileira tão autoritária e tão anti-povo quanto à sua ancestral da República Velha. Disse ele: ''Não é uma greve para reivindicar salários, é uma greve de natureza política…''  Na boca do senhor Serra, sem nenhum retoque, o clássico argumento dos barões do café: a política é para os políticos, é para nós '' os de cima''.



Esse surrado argumento de que esta e aquela greve é política e não genuinamente salarial se ouvia com freqüência no período da ditadura militar. Alckmin e Serra ao utilizá-lo escancaram o autoritarismo e a truculência dos governos tucanos contra a luta dos trabalhadores e o conjunto dos movimentos sociais. O ideário da dupla PSDB-PFL de privatizações, de corte de direitos trabalhistas e sociais, requer essa truculência para tentar vergar a inevitável resistência do povo e dos trabalhadores. Assim foi no Brasil, com FHC na presidência. Assim, foi em São Paullo com Alckmin no governo.



A reação dos candidatos do campo democrático foi outra. Mercadante apesar de ponderar sobre os impactos de uma greve do metrô sobre a população, ressaltou que a greve teve ''motivos justos''. Quércia disse que ''greve é um direito''. Nádia Campeão, do PCdoB, candidata a vice-governadora na chapa de Mercadante, além de participar da assembléia que decidiu pela paralisação  é uma das signatárias da ação judicial do Sindicato contra a  privatização.



No caso concreto, o Sindicato dos Metroviários e o conjunto da categoria (80% participaram do movimento) foram à greve porque a toque de caixa e burlando inclusive trâmites judiciais o governo do Estado e a Companhia do Metrô estão privatizando a Linha 4 – amarela. Alckmin se defende argumentando que a Parceria Público-privada é vantajosa. Se é assim por que fechar o contrato em rito que fere a Lei e sem transparência alguma? O Sindicato dos Metroviários tem um conjunto de dados, estudos e argumentos que demonstram que, no caso específico, a dita parceria com a empresa Benito Roggio Transportes S.A  é danosa aos interesses públicos.



A greve dos metroviários não foi como querem Serra e Alckmin ''absurda'' nem ilegal. Se greve é ilegal para a democracia tucana não o é para a Constituição da República Federativa do Brasil. Nos últimos meses São Paulo tem sido ''paralisada'' pelas ações do crime organizado- legado do ''choque de gestão'' de Alckmin. A greve dos metroviários, apesar dos naturais transtornos, não foi hostilizada pela população. Talvez porque a fez lembrar de São Paulo dos anos 80 depois da redemocratização quando a cidade parava pelas justas lutas do povo e dos trabalhadores.