Lula relança reforma política na TV

A campanha Lula decidiu agarrar o touro pelos chifres. Logo no primeiro programa do horário eleitoral gratuito, colocou o próprio presidente para dizer ao eleitor, “com a consciência tranqüila”, que “uma ampla reforma política” é único caminho para enfrentar a crise ética.


 


Nesta terça-feira Lula foi o único candidato presidencial a apresentar uma resposta substantiva para a sucessão de escândalos que gerou, a partir de maio de 2005, a mais prolongada crise política que a história republicana já viu, e custou ao governo as cabeças dos ministros José Dirceu e Antonio Palocci. A resposta é reforma política. Lula coloca-a como segunda prioridade de um próximo mandato, depois da “prioridade máxima” reservada à educação.


 


A proposta é dar uma solução estrutural para um problema estrutural. “A crise ética que se abateu sobre o país é a crise de todos”, disse Lula, precavendo-se contra a saraivada de denúncias relançadas que, se o debate eleitoral azedar, procurará alvejar o seu governo e o seu partido.


 


No primeiro programa o presidente não especificou os pontos dessa reforma. Uma proposta, porém, tramita no Congresso (além da mini-reforma Bornhausen, já aprovada, a toque de caixa que além de não “moralizar” nada, favorece as candidaturas vinculadas ao poder econômico, a julgar por este início de campanha). Prevê, em essência, o financiamento público das campanhas, com o fim das relações promíscuas entre poder econômico e partidos políticos; a votação em listas partidárias e não mais em candidatos individuais; a fidelidade partidária inibindo o troca-troca de legendas; e o atenuamento das barreiras impostas no governo passado à livre atuação partidária.


 


A corrupção política é fenômeno não só brasileiro ou latino-americano; grassa igualmente no Primeiro Mundo, dos dois lados do Atlântico, e é preocupação permanente na China socialista. A corrupção à brasileira. porém, tem características específicas que emanam do sistema político aqui vigente. Combatê-la de fato implica em mudar o sistema. O resto são lantejoulas, por mais políticos que se mande para o patíbulo da cassação, para a delícia de uma mídia sensacionalista e rasa.


 


Bem-vindo, pois, o debate eleitoral sobre uma questão relevante: reforma política. Os outros candidatos também terão o que dizer. Geraldo Alckmin, embora não tenha enveredado pelo tema na TV, tem defendido a volta do voto distrital misto, que chegou a ser aprovado sob o governo do general João Batista Figueiredo, nos estertores da ditadura. Que venham à luz as propostas, e o povo julgue se o sistema deve andar para frente ou para trás.