A revoada no ninho tucano

As duas últimas sondagens eleitorais deixaram o candidato da oposição liberal-conservadora totalmente desnorteado e deprimido. Num primeiro momento, o comando da campanha ainda tentou desqualificar a pesquisa da Sensus, que apontou a queda de 7,5% do presidenciável tucano. “É uma piada”, esbravejou Geraldo Alckmin. “Prefiro aguardar a pesquisa da Datafolha. Não acredito nesta pesquisa. Ela está muito estranha, não bate com os números que temos”, despistou o dirigente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati. O inferno astral piorou quando a sondagem seguinte, do Datafolha, confirmou que o presidente Lula ampliou a sua vantagem sobre o concorrente da direita de 16 para 23 pontos percentuais, diminuiu a sua taxa de rejeição, aumentou a votação espontânea e conquistou terreno nas regiões Sul e Sudeste.


 



Diante do acúmulo de péssimas notícias, o quartel-general de Alckmin, que reúne os rentistas “modernos” do PSDB, a velha oligarquia do PFL e os trânsfugas do PPS, entrou em pânico e decidiu “baixar o nível”. A agência Reuters informa que “em reunião da coordenação política da campanha nesta quarta-feira (9), tucanos e pefelistas resolveram que precisam explorar com maior contundência o escândalo do mensalão e ligar Lula ao episódio. “Queremos extirpar essa praga da corrupção”, disse Alckmin, negando, porém, que seja uma nova estratégia da campanha após os resultados negativos das sondagens eleitorais. Nos bastidores, contudo, pessoas diretamente envolvidas na campanha dizem que “não engoliram” as pesquisas, sobretudo os indicadores que revelam o crescimento da avaliação positiva do governo Lula”.


 



O problema desta tática moralista é que até agora ela não conseguiu convencer os eleitores, especialmente das camadas mais carentes da sociedade. O povo sente no cotidiano as abissais diferenças entre o governo Lula e o triste reinado de FHC, que aviltou a soberania nacional, bateu recordes de desemprego e agravou a barbárie social. Além disso, a sociedade parece mais impermeável ao discurso udenista e hipócrita de figuras que sempre estiveram envolvidas em denúncias de corrupção. ACM, Bornhausen e FHC – o responsável pela privataria do Estado brasileiro – não têm muita moral para falar em ética. O próprio Alckmin não deve se sentir tranqüilo com esta tática. Na semana passada, o ex-governador sofreu uma dura derrota no Supremo Tribunal Federal, que decidiu desarquivar os 69 pedidos de CPIs contra as suas falcatruas em São Paulo.


 



Agora, Alckmin jogará todas as fichas que lhe restam na propaganda eleitoral gratuita de rádio e televisão, que começa em 15 de agosto. Alardeia que reverterá a tendência de queda e que com isso a disputa será levada para segundo turno. Caso isto não ocorra, a revoada no ninho do bloco liberal-conservador será dramática. O próprio FHC, conspirador-mor da direita brasileira, reconheceu numa recente entrevista que Alckmin “não tem carisma” e que talvez tenha sido um erro a sua escolha. Hoje, voltou a esculhambar os erros da campanha. Vários candidatos do PSDB e PFL já ameaçam abandonar o barco. Na Bahia, o programa de TV do coronel ACM sequer citou o nome de Alckmin; no Ceará, já foi montado o comitê Lu-Lu – Lula e Lúcio Alcântara, candidato tucano à reeleição; em São Paulo e Minas, Serra e Aécio evitam andar juntos com Alckmin. Talvez só reste ao ex-governador voltar as suas aulinhas no Palácio dos Bandeirantes com os numerários do Opus Dei!