O jornalismo mequetrefe de Veja

A Editora Abril e seu carro-chefe, o panfleto semanal intitulado Veja, reforçaram, neste final de semana, a inovação jornalística que pretendem ter inaugurado: o jornalismo com base no “ouvir dizer”, em fontes e entrevistas inexistentes, fundado na mentira e na calúnia.

Não é uma prática nova na imprensa de direita no Brasil. Já na década de 1950 a revista O Cruzeiro, que era o grande panfleto da direita na época, era notável por esse mesmo jornalismo mequetrefe, apelidado “de dentro pra fora” – isto é, feito a partir de fatos inventados na redação.

Da mesmo forma como hoje Veja se esmera em destruir a imagem do presidente Luís Inácio Lula da Silva e das forças progressistas e de esquerda, naqueles anos O Cruzeiro investia contra o presidente Getúlio Vargas e pagou um preço alto por sua miopia histórica e política. A confiança dos leitores caiu aceleradamente, a circulação começou a minguar e, em poucos anos, O Cruzeiro perdeu a importância que tivera e naufragou melancolicamente.

E qual é a estrutura dessa mentira? Ela é revelada pela própria matéria assinada pelo repórter Rodrigo Rangel, e pela “Carta ao Leitor” do diretor da revista. Não havendo declarações diretas e insofismáveis do empresário Marcos Valério, ele confessam, no próprio texto, que a mentira ali contada tem “base em revelações de parentes, amigos e associados”. Esta é a essência do jornalismo mequetrefe de Veja: a mentira e a calúnia.

Mentira e calúnia cujo objetivo é evidente. A direita e os conservadores alinhados com o PSDB e com o DEM estavam alvoroçados com a esperança de que o julgamento do chamado “mensalão” teria um efeito arrasador na eleição municipal deste ano, dificultando o desempenho dos candidatos do campo progressista e alavancando a preferência popular pelos candidatos da direita.

Mas isso não aconteceu e nada indica que o embate eleitoral municipal vá trazer vitórias aos tucanos e seus aliados. O quadro revelado pelas pesquisas de opinião é desanimador para a nova direita, representada pela aliança PSDB/DEM; mostra que ela envelheceu, sendo crescentemente rejeitada pelo eleitor que antecipa a sensação de outra derrota estratégica para o conservadorismo neoliberal em 2014, na sucessão da presidenta Dilma Rousseff.

A direita neoliberal vive dias difíceis no parlamento, no campo eleitoral e também na confiança do leitor em suas publicações, cujas mentiras, conhecidas e rejeitadas, já não repercutem como antes. As sucessivas tentativas do panfleto de propriedade da família Civita pretendem tumultuar o processo político e eleitoral, em busca de saídas à margem da lei para garantir o poder e os privilégios dos setores mais conservadores das classes dominantes. Contra elas, o Brasil e o povo brasileiro seguem adiante, em busca de novas e maiores conquistas democráticas e sociais. E a recordação da rota rumo ao abismo vivida no passado por O Cruzeiro permite entrever semelhante destino para uma publicação que, hoje, ainda posa de poderosa e influente e seu jornalismo mequetrefe e mentiroso.