Demostenes Torres: lições do abismo

O sangramento público do senador Demostenes Torres (DEM-GO) encerra um conjunto de lições a respeito do comportamento político da direita e dos conservadores.

Demostenes Torres é vítima do próprio veneno com que, desde o início da era Lula à frente da Presidência da República, combateu e levou às cordas figuras notáveis do campo progressista. Ele notabilizou-se como feroz caçador de corruptos, reais ou imaginários. Esteve no centro do cenário como um acusador implacável, fixando com a ajuda da mídia conservadora a imagem de um moralista inabalável.

Neste momento em que seu partido – o DEM – vive sua derrocada, ele chegou a ser cogitado como candidato à presidência da República para, sob o manto moralizador desta imagem construída através da mídia conservadora, restaurar alguma influência e prestígio a este partido que foi um dos esteios da ditadura militar e, depois, dos governos neoliberais de Fernando Collor de Melo e Fernando Henrique Cardoso.

Demostenes também foi, no Senado – ironia mortal! –, o relator do projeto de lei da Ficha Limpa, que proíbe a participação eleitoral de condenados pela Justiça. Ele colecionou desafetos como, por exemplo, Renan Calheiros e José Sarney, dos quais foi um algoz implacável.

Divulgou-se também que foi, juntamente como Carlinhos Cachoeira e o chefe da sucursal de Brasília da revista Veja, um dos responsáveis pela armação midiática que desencadeou a mais grave crise enfrentada pelo governo Lula, em 2005, conhecida como Mensalão, baseada em notícias plantadas na mídia pelo senador e seu comparsa bicheiro.

A queda de Demostenes foi rápida. Durou menos de um mês, depois da prisão, no final de fevereiro, do chefe da máfia de caça-níqueis em Goiás e expoente da exploração ilegal do jogo, o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Descobriram-se então as relações íntimas entre o bicheiro e o senador, que usava seu mandato para defender os interesses do contraventor sendo, mostram as gravações, regiamente recompensado, recebendo cerca de 30% do dinheiro arrecadado à margem da lei.

No melhor estilo mafioso, hoje o DEM quer ver Demóstenes Torres pelas costas para não desgastar ainda mais sua imagem perante o eleitorado. O DEM, ex-PFL, está quase em coma. Partido que elegeu 105 deputados federais em 1999, hoje está reduzido a 27 – por perdas eleitorais e defecções. Em 2006, chegou a ter a maior bancada do Senado, com 18 senadores; está reduzido a cinco, a maior parte inexpressivos, e – tudo indica – às vésperas de perder ainda mais. Um deles, com certeza, é o próprio Demostenes Torres.

Esta é a hipocrisia da direita e dos conservadores. Sem programa político que possa ser exposto claramente ao eleitorado. Seu programa, como se viu nas décadas em que estiveram no poder, é o do atraso, da privatização, da humilhação nacional e do empobrecimento do povo e dos trabalhadores. Por isso agitam com fúria a esfarrapada bandeira da moralidade para desacreditar forças políticas e governos que defendem o desenvolvimento nacional, a melhoria da vida do povo e a soberania nacional.

Uma particularidade da direita é a permanente infidelidade a seus próprios correligionários: na hora do infortúnio, cada um pensa em si e nos seus interesses particulares, e não hesitam em jogar às feras seus parceiros da véspera.Este é o comportamento da direita, dos conservadores; é assim que funcionam partidos como o DEM.