Hora de ação contra a matança no Líbano

Quem quer que trave uma guerra, neste século, terá que lidar com o poderio das imagens. transmitidas em tempo real para o planeta inteiro, elas são capazes de conquistar num átimo milhões de aliados ou adversários para uma causa. As fotos das crianças carbonizadas pela aviação de guerra de Israel, e do sorriso de Herodes de Condoleezza Rice, dizem tudo sobre o que acontece hoje no Líbano. Chamam a humanidade à ação de protesto. É hora de ação, ação de ermergência, para deter a mão dos carniceiros.



Israel gerencia a mortandade com um cálculo cínico. Diz que continuará a matar, por um período maior que “dias” e menor que “meses” as agressões iniciadas há três semanas. Um porta-voz sem papas na língua dessa visão, Efraim Inbar, politicólogo da Universidade Bar-Ilan, explica em entrevista que, “entre nós e Deus, existem os Estados Unidos”, e “os Estados Unidos dirão quando o bastante será bastante”.



À primeira vista, é um combate que Israel não pode perder. As baixas do outro lado são dez vezes superiores, e esta desproporção tende a aumentar, tal como acontece no outro front, o dos territórios palestinos. Mas esta é uma aparência duplamente enganosa.



Primeiro, porque a selvageria dos agressores semeia e cultiva as searas da resistência. O Hezbolá, como as demais forças que combatem o ocupante israelense, não existe desde sempre. Nasceu em 1982, exatamente no mesmo ano em que o exército de Israel invadiu pela primeira vez o sul do Líbano, para dali se retirar, 18 anos mais tarde, vencido pela guerrilha libanesa.



Segundo e principalmente porque, a cada feito d'armas israelense e a cada menino libanês carbonizado, mais o Estado de Israel se isola aos olhos da humanidade. Na guerra de nossos tempos não contam simplesmente as baixas ou as posições. Os combatentes do Gueto de Varsóvia, que o exército de Hitler chamava terroristas nos idos de 1943, também eram poucos e mal armados; tombaram todos, após 38 dias de resistência. E no entanto ganharam a guerra.



Isto significa que há neste conflito um front que se alastra para muito além do Oriente Médio. Ele chega até os EUA, onde o fundamentalismo bush-condoleezzista está longe de ser unanimidade. Chega também, sem dúvida, ao Brasil, e não só porque vivem aqui 9 milhões de descendentes de libaneses, e nasceram aqui sete dos seres humanos que Israel trucidou no mês passado.



Os brasileiros, as nossas forças sociais e políticas avançadas, devíamos atentar mais para a matança em curso no Líbano. Devíamos captar o sentido de urgência e de ação que ela reclama. O que há de mais belo na solidariedade internacional é que ao final da ação solidária fica difícil dizer quem está ajudando e quem está sendo ajudado. O projeto libertador brasileiro, queiramos ou não nos dar conta disto, passa também por ações como o protesto imediato, eloqüente e crescente contra a agressão ao Líbano.