Dilma em Cuba: negócios, amizade e solidariedade

No momento em que a presidente Dilma Rousseff embarca para sua primeira viagem a Cuba (e, depois, ao Haiti), os setores conservadores e a mídia patronal se assanham e querem impor a pauta da visita.

“Direitos humanos!” – é o brado cara de pau dos apoiadores da repressão ao Pinheirinho (em São José dos Campos, SP), da ação policial na Cracolândia e de outros desatinos cometidos pelos saudosistas da ditadura militar.

Dilma não vai a Cuba para debater, com os dirigentes da Ilha, problemas internos daquela nação soberana. Ao contrário, vai para reforçar a amizade entre as duas nações e discutir comércio e cooperação bilateral.

Dilma vai encontrar a Ilha em profundo processo de mudanças que envolvem a economia, a política e… direitos humanos. A conversa envolverá temas como cooperação técnica, científica e tecnológica e a busca da intensificação do intercâmbio na saúde e na produção de medicamentos (que são especialidades cubanas) e também agricultura e produção de alimentos, nos quais o Brasil pode ter uma contribuição significativa. São temas importantes em uma realidade, como a cubana, na qual novidades econômicas como a liberação do comércio de veículos e imóveis, estímulo à demissão voluntária de funcionários públicos e ao exercício de atividades empresariais autônomas, vão dominando o noticiário. São mudanças que buscam aumentar a produtividade e melhorar a vida do povo cubano.

Na área política, a conferência do Partido Comunista de Cuba sinaliza a consolidação de decisões debatidas no 6º Congresso, em abril de 2011. A principal delas é a fixação de limites para cargos públicos no país. A ideia, anunciada domingo pelo presidente, é fixar o prazo máximo de dez anos (dois mandatos de cinco) inclusive para o mais alto cargo político do país, a presidência da República, dentro de um processo de mudanças que ele chamou de "rejuvenescimento e renovação".

Os direitos humanos – tema sobre o qual a diplomacia brasileira, reiteradamente, não se pronuncia por se tratar de questão interna de nações soberanas – são o prato de resistência dos setores conservadores adversários de Cuba e partidários do bloqueio norte-americano da Ilha. É um tema da propaganda anticomunista que enfatiza a defesa de criminosos comuns condenados pela justiça cubana e que tentam dar uma coloração “política” a seus protestos.

A propaganda conservadora não manifesta ênfase semelhante mas silencia quando se trata da clamorosa ilegalidade e manipulação judiciária de que são vítimas os cinco herois antiterroristas presos nos cárceres nos EUA. Cala-se também sobre os avanços obtidos nas negociações entre o governo cubano e a Igreja Católica sobre o tratamento a dissidentes políticos, que se desdobram com êxito há dois anos. E deixam num limbo conveniente para a direita o escândalo que é a manutenção da prisão de Guantânamo, onde há dez anos são mantidos presos acusados de terrorismo, sem comprovação nem sequer processo normal. São humilhados, submetidos a torturas e impedidos de praticar sua crença religiosa (a maior parte deles é formada por muçulmanos). É um vexame mundial de responsabilidade do governo dos EUA que encontra resistência mesmo no Comissariado da ONU para os Direitos Humanos que, recentemente, cobrou de Barack Obama seu fechamento.

Há ainda o caso da “blogueira” Yoanny Sánchez, a queridinha da mídia patronal, dos conservadores e da direita. Alega-se falsamente que ela é perseguida política quando, na verdade, é uma mercenária que exerce livremente sua atividade cibernética a partir da capital de Cuba, mesmo com suas conhecidas ligações com a CIA, com os bandoleiros anticastristas de Miami e com o “escritório de interesses” dos EUA em Havana (Sina), de quem recebe apoio financeiro. Ela poderá vir ao Brasil em breve, tendo já obtido um visto de turista e não será nenhuma “surpresa” se o governo cubano autorizar sua viagem.

Cuba e o Brasil tem laços de amizade históricos, reforçados depois do final da ditadura militar e do reatamento das relações diplomáticas, em junho de 1986. A aproximação foi forte nestes anos; o comércio entre os dois países cresceu muito e superou, no ano passado, os US$ 640 milhões (31% a mais do que em 2010). É um caminho promissor para o fortalecimento da amizade e da solidariedade a Cuba que, neste ano, completa 60 anos do implacável bloqueio promovido pelos EUA, que tantos prejuízos causa à economia da Ilha.