O PSDB, direitista desde o começo

Duas mentiras marcaram o surgimento e o desenvolvimento do PSDB. A primeira é a de que sua ideologia era um pensamento de esquerda moderno; a segunda é a de que a aliança do com o PFL, na eleição de 1994, foi uma decisão pragmática, ao largo do pensamento social democrata do partido tucano. Nem uma coisa, nem outra. Vejamos.


 


O PSDB já nasceu em 1988 com um programa de direita, neoliberal. O partido foi fundado por um mandarinato político com forte presença no Congresso Nacional, mas sem espaço no governo Sarney. Essa tese, defendida pelo cientista político Celso Roma, da Universidade de São Paulo, ajuda a entender a trajetória política desta agremiação que é um dos esteios da nova direita brasileira.


 


Celso Roma foi um dos pioneiros no estudo do PSDB e critica duas certezas recorrentes em relação aos tucanos: a primeira, de que o PSDB surgiu em 1988 devido a uma divergência ideológica contra as alianças à direita que o PMDB mantinha na Nova República; a outra, de que a aliança com o PFL em 1994 foi pragmática e descaracterizou a orientação ideológica do PSDB.


 


Na verdade, diz o cientista político, o PSDB nasceu movido por objetivos pragmáticos-eleitorais, e não por questões ideológicas; e sua evolução posterior, desembocando na aliança com o PFL foi facilitada pelas afinidades ideológicas entre os dois partidos, não tendo existido os motivos pragmáticos que muitos alegam. Isso marca, pensa ele, o contraste entre os dois partidos desde suas origens.


 


O PSDB nasceu de um acordo entre caciques políticos em busca de espaço na eleição presidencial de 1989, não tendo seguido a rota clássica da formação dos partidos social-democratas europeus, que cresceram articulados com a luta das massas trabalhadoras e dos sindicatos. Experiência antagônica à do PT, que, ao contrário do partido tucano, nasceu justamente da luta dos trabalhadores, ao largo do jogo eleitoral e parlamentar, mas a partir da articulação de setores organizados da sociedade civil, como sindicalistas, com intelectuais e parlamentares de esquerda.


 


Além disso, o programa do PSDB era neoliberal desde a origem do partido. Seu manifesto de fundação, de 1988, já rompia com o caráter nacionalista do estado brasileiro, rejeitava a intervenção estatal na economia e fugia do envolvimento em negociações trabalhistas e nos conflitos entre patrões e empregados cuja solução, segundo aquele documento, devia ser deixadas para a “livre” negociação entre patrões e empregados, sem a intervenção do Estado.


 


Tal programa, diz Roma, desmente as interpretações segundo as quais a “virada à direita” e o abandono do projeto social democrata teria sido o custo pago pelos tucanos para chegar à presidência da República através da aliança com o PFL.
Havia uma ambigüidade entre os tucanos, diz o estudioso – enquanto o programa dos cardeais era fundamentalmente neoliberal e portanto de direita, o discurso partidário público exigia uma coloração de esquerda.


 


O discurso social-democrata foi fundamental para a mobilização de filiados e militantes, “o que conferiu um viés de esquerda na sua origem”, embora a tônica liberal de seu programa de governo tenha predominado como concepção ideológica do mandarinato da cúpula do PSDB.


 


Isto é, em seus primeiros anos o PSDB teve duas caras: uma encenava um discurso de matiz social-democrata para se legitimar perante o eleitorado e alguns setores que haviam se mobilizado na luta contra a ditadura militar; esta era sua feição pública, seu marketing. A outra, neoliberal, era o programa verdadeiro do partido, que movia seus dirigentes.


 


Essa matreice tucana perservera na atual campanha eleitoral. Consciente de que o povo rejeita os paradigmas neoliberais, Alckmin, no que pode, dissumula e fala em desenvolvimento e justiça social. Mas o desatroso reinado de oito anos de FHC no Palácio do Planalto somado ao reinado tucano por uma dúzia de anos no Palácio dos Bandeirantes, dificulta essa camuflagem. O rabo da ratazana e por demais comprido para ser ocultado.