Termina, no Iraque, outra guerra que os EUA não venceram

Os dirigentes dos Estados Unidos – o presidente Barack Obama à frente – foram cautelosos ao anunciar (dia15) o fim da agressão militar contra o Iraque e não usaram a palavra vitória em seus comunicados. Nem poderiam – não houve vitória em mais esta agressão dos EUA a uma nação soberana que repete, de forma menos estrondosa, fracasso semelhante ao que viveram no Vietnã, quando suas tropas agressoras foram humilhantemente expulsas da então Saigon, atual Ho Chi Minh.

A agressão norte-americana contra o Iraque, permanente desde o início da década de 1990 e que, em 19 de março de 2003, assumiu a forma de intervenção direta, com bombardeios aéreos contra a capital Bagdá e as principais cidades do país e depois desembarque de tropas, foi justificada com uma mentira, a alegação de que o país detinha armas de destruição em massa. E com um pretexto, a deposição do regime de Saddam Hussein.

Nove anos depois, com um espantoso número de mortos e feridos e um país arrasado, o objetivo real não pode mais ser disfarçado – o controle das fabulosas reservas de petróleo e gás, cuja exploração agora foi atribuída a empresas dos EUA e da Europa, pondo fim a mais de 40 anos de controle nacional sobre aqueles recursos naturais estratégicos.

O saldo da agressão militar é terrível. O próprio governo dos EUA admite que 4.487 soldados das tropas ocupantes foram mortos e 32 mil feridos. Eram agressores que faziam parte dos mais de 1,5 milhão de soldados que, nestes nove anos, participaram da ocupação do Iraque. Entre os defensores do país, o número de mortos supera 150 mil, sendo a maior parte deles civis (cerca de 80% do total) – um morticínio criminoso que envolveu idosos, crianças, mulheres, vítimas da sanha assassina indiscriminada das tropas agressoras (a revelação de alguns documentos secretos, como os referentes ao massacre de Haditha, de 2005, levanta uma ponta do véu da atuação criminosa das tropas de ocupação). Mas estes números são questionados e há cálculos de um morticínio ainda maior. Uma pesquisa sobre a Saúde da Família Iraquiana estimou que apenas entre março de 2003 e junho de 2006 ocorreram 151 mil mortes violentas. E a revista The Lancet, especializada em assuntos militares, calculou que até 2006 a guerra provocou 654.965 mortes entre iraquianos. Além disso, entre 2005 e 2010, cerca de 1,6 milhão de iraquianos (5,5% da população) tiveram que deixar seus domicílios, engrossando o número daqueles que tiveram suas vidas precarizadas pela agressão estrangeira.

Há controvérsia também quanto ao preço da guerra, que o Congresso dos EUA calcula em US$ 800 bilhões; o prêmio Nobel de economia Joseph Stiglitz e a professora de Harvard Linda Bilmes calculam que foi muito maior, chegando a US$ 3 trilhões no computo geral.

Ao anunciar a retirada das tropas agressoras do Iraque, o presidente Barack Obama dourou a pílula ao falar em um pretenso “sucesso extraordinário” dos EUA. Antes da agressão imperialista o Iraque – embora sob embargo – era um país em crescimento, onde as liberdades civis e o caráter laico do Estado se destacavam no contexto de nações com forte influência religiosa em suas legislações. Depois de nove anos de agressão comandada pelos EUA, o país está devastado, sem energia elétrica suficiente ou água potável suficiente e com uma taxa de desemprego que supera os 15%.

Obama alega que seu governo deixa um Iraque “soberano, estável e autossuficiente”. São palavras para os ouvidos de seus prováveis eleitores em 2012, mas não para os iraquianos ou os democratas pelo mundo afora. Há que se questionar a soberania do regime instalado pelos norte-americanos no Iraque na ponta do fuzil. O que farão lá os “conselheiros militares” que permanecerão após a retirada oficial das forças agressoras? Falar em estabilidade é uma piada, e somente os meses vindouros revelarão a capacidade do governo do primeiro-ministro Nurial al-Maliki controlar o país. Obama também teve o mau gosto de falar em autossuficiência. O que esta palavra pode significar um país devastado e que sai de uma guerra nas condições em que o Iraque está hoje, com a economia paralisada e a imensa maioria dos empregados (85% do total, calcula-se) prestando serviços para o governo?