Estudantes soltaram nas ruas o grito de um Brasil oprimido

Ao contrário do que disse o presidente Bolsonaro em reação às enormes passeatas contra seu governo que aconteceram no Brasil ontem, os estudantes não são “inocentes úteis” ou “massa de manobra”. Os manifestantes tomaram as ruas contra os cortes na educação de forma consciente, porque sabem que este governo quer destruir a educação pública e as universidades.

Os atos são a ponta de um grande iceberg que se avoluma contra Bolsonaro e sua turma. Em centenas de cidades em todo o Brasil milhões de jovens protagonizaram os maiores atos desde 2013 e mostraram uma grande demonstração de cidadania.

Em todos os momentos da história brasileira em que governos entreguistas assumiram o poder, as universidades públicas foram as primeiras instituições a serem atacadas. Não cabe na concepção de mundo destes tiranos instituições federais de ensino que possam encarar os desafios de nossos atrasos científicos e tecnológicos. A elite brasileira não quer construir um projeto de desenvolvimento nacional autônomo e prefere perpetuar nossa dependência e ser dominada pelos EUA.

Inicialmente, os argumentos utilizados pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, para cortar 30% das verbas dos institutos e universidades federais foi de que seria priorizado a educação básica em detrimento ao ensino superior. Mas essa tese se demonstrou falsa imediatamente, pois mais de R$ 2,4 bilhões foram cortados do ensino básico. Cortes que afetarão prioritariamente os estudantes mais pobres e que dependem do transporte escolar e da merenda na escola. Essas duas áreas, por exemplo, sofreram mais de R$ 20 milhões em cortes.

O contingenciamento na educação básica atingiu programas como o Mediotec, que conjuga formação no ensino médio com formação técnica. Ele teve R$ 144 milhões retidos dos seus R$ 148 milhões previstos no orçamento. Do orçamento de R$ 265 milhões destinados à infraestrutura do ensino básico, como para construção de creches, R$ 146 milhões foram contingenciados. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico (Pronatec) teve 100% de seu orçamento retido. Esses dados ilustram o total desprezo com a educação básica de qualidade.

Utilizando-se de expressões que tentam desqualificar o papel e a produção acadêmica das universidades, classificando como “balbúrdias”, o que o governo realmente quer é privatizar o ensino superior e transformá-lo num grande colégio de terceiro grau.

Acabar com as atividades de pesquisa e de extensão universitária, atacar as políticas de assistência estudantil e perseguir as entidades representativas dos estudantes. Em tempos difíceis como os que vivemos, o papel das universidades não pode ser outro senão o do saber, da pesquisa, do ensino, da difusão de ideias e de conhecimentos que emancipem o homem e promovam uma vida com melhor qualidade.

Diferentemente de outros países, em que empresas privadas e Forças Armadas investem pesadamente em Ciência e Tecnologia, no Brasil esses investimentos são exclusivamente feitos pelas universidades públicas. Fato que erroneamente pode fazer crer que os custos do nosso sistema são maiores do que de outros países mais desenvolvidos ou em desenvolvimento, enquanto na verdade não são.

O que assistimos nas passeatas estudantis de ontem foi apenas o começo de um grande movimento nacional, que expressará com a pureza dos corações de estudantes o grito preso na garganta de um Brasil oprimido pelo ódio e pela ode à ignorância.

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