Hipóteses plausíveis

Óbvio que não se pode subestimar a dimensão da vitória da extrema direita no último pleito presidencial, desaguadouro do golpe que afastou do governo a presidenta Dilma Rousseff.

Um ciclo de transformações de caráter progressista, que se iniciara em 2003, com a assunção de Lula à presidência da Republica foi interrompido, dando lugar a um projeto diametralmente oposto.

A correlação de forças que se estabeleceu, francamente desfavorável ao campo popular e democrático, se expressa em todas as esferas da sociedade.

As instituições republicanas, esgarçadas em sua credibilidade, se veem hegemonizadas por grupos ultraconservadores e atuam articuladamente na mesma direção, apesar de escaramuças eventuais, frutos de interesses momentaneamente contraditórios.

Nessas condições, duas hipóteses se apresentam.

Ou o governo Bolsonaro engata a marcha, ganha algum juízo e concretiza a agenda ultraliberal; ou segue enredado em conflitos autofágicos, sofrendo de prolongado desgaste e inoperância, permitindo a rearticulação das forças políticas e sociais oponentes.

É cedo ainda para arriscar o palpite.

Mas é emblemática a incapacidade do presidente em domar os touros loucos batizados de “ideológicos” (o clã e o astrólogo-guru em particular) e de assegurar ao governo um mínimo de funcionalidade para levar seus intentos a cabo.

A resultante do almoço do presidente com a cúpula das Forças Armadas, na última terça, sinaliza para a segunda hipótese.

Assim, pesa considavelmente o fator subjetivo — negativamente —, tanto no grupo instalado no governo, como na sua base parlamentar.

A maioria numérica na Câmara e no Senado ainda não se converteu em base de apoio minimamente estável em razão da incompetência do próprio presidente e do seus articuladores.

De outra parte, manifestações públicas de estudantes e segmentos da comunidade universitária em defesa do sistema educacional público e atos de resistência à reforma previdenciária, que se espraiam pelo país, talvez estejam sinalizando o reingresso da pressão das ruas da cena política.

A greve geral convocada pelas centrais sindicais para 14 de junho será um teste importante.

Impõem-se na ordem do dia a necessária sagacidade para explorar, sobretudo no Parlamento, as contradições das forças governistas; e a busca de uma combinação entre a resistência institucional e movimentos de rua, com sentido unitário.

O fator subjetivo, que por enquanto conta negativamente no governo, há que ganhar maturidade e consequência entre as forças oposicionistas.

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