A decadência de Minas e do significado do 21 de abril

 "O que o Dia de Tiradentes nos mostrou é que a crise de Minas é muito mais política do que econômica".

A solenidade de entrega da Medalha da Inconfidência, realizada no dia 21 de abril em Ouro Preto, foi o fiel retrato da situação que Minas Gerais enfrenta. A comenda foi criada por Juscelino Kubitschek, em 1952, como forma de homenagear grandes nomes com relevantes serviços prestados ao Brasil e às causas humanitárias. Sempre muito prestigiada e valorizada, a atividade do último domingo foi uma solenidade rebaixada politicamente, típica da decadência enfrentada pelo Estado. Olhando de longe, mais parecia uma homenagem a Joaquim Silvério dos Reis do que a comemoração do Dia de Tiradentes e de seu legado de liberdade.

Os governadores Itamar Franco, Aécio Neves, Antônio Anastasia e Fernando Pimentel, pra não ir mais longe, trataram o 21 de Abril por diferentes prismas políticos e até mesmo ideológicos, mas sempre preservaram sua essência e nunca traficaram seus princípios. Ao longo de seus governos, sempre homenagearam com o Grande Colar figuras públicas incontestáveis para o merecimento de tal honraria. Ao contrário disso, o governador Romeu Zema homenageou o presidente Jair Bolsonaro, que já demonstrou ser o mandatário que mais atenta contra a soberania nacional. Para piorar a situação, Bolsonaro fez uma tamanha desfeita e optou por não vir receber a medalha para ficar descansando com a família, como justificou em vídeo nas redes sociais. Outro agraciado, o governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel, também não compareceu.

Palco de discursos históricos, o 21 de abril seria uma oportunidade para Zema dizer aos mineiros o que realmente pretende, qual é o seu projeto político e econômico para Minas. O que a população que o elegeu espera é que ele faça Minas ter o mesmo êxito e prosperidade que têm os seus negócios na vida privada, aliás, foi essa sua propaganda vencedora. Clamar por uma união dos mineiros ou fazer apelos para que os outros poderes economizem mais não resolve os problemas estruturais do Estado. O que os mineiros querem saber é como seu governante vai agir para tirar o Estado dessa situação. Como retomar o papel da indústria? Como investir na educação e na ciência e tecnologia? Como alterar a condição de um Estado exportador de commodities para exportar produtos com valor agregado? O que será feito para gerar empregos? Quanto a esses importantes temas, Zema não fez alusão.

O governador parece querer promover uma nova espécie de “derrama”, mecanismo usado pela Coroa portuguesa para extrair de forma violenta a cobrança de impostos da Colônia. O que Minas necessita não é de uma reforma administrativa, de fusão de secretarias, demissão de comissionados, privatizações de nossas empresas públicas ou outras pirotecnias midiáticas com baixo efeito prático e muito arrocho à população. Zema precisa conhecer melhor o funcionamento da máquina pública, entender que a dinâmica é diferente da privada, as situações são mais complexas, existem outros poderes. Não se administra um Estado como se administra uma loja de eletrodomésticos.

O que o Dia de Tiradentes nos mostrou é que a crise de Minas é muito mais política do que econômica. As saídas para os problemas, portanto, não se resolvem por fora da política como quer crer o governador. Não existe a “nova” ou a “velha” política, isso serve apenas no período de campanha para confundir ou enganar os eleitores, o que realmente existe é a política, nua e crua como ela é. E foi sempre assim que as lideranças políticas mineiras souberam fazer com que o nosso Estado alcançasse o prestígio e importância ao longo dos anos. A boa política precisa voltar a ser um ativo importante de Minas para retomar seu desenvolvimento.

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